Ciência
02/07/2023 às 12:00•2 min de leitura
A deflagração da guerra entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro do ano passado, trouxe ao imaginário mundial os perigos de uma nova guerra nuclear com consequências devastadoras para a humanidade. Afinal, em menos de um século, o conhecimento humano foi capaz de produzir catástrofes atômicas que arrasaram três cidades: Hiroshima, Nagasaki e Chernobyl.
No caso das duas primeiras tragédias, ambas no Japão, que provocaram a morte de 129 mil pessoas em Hiroshima e 226 mil em Nagasaki — a maioria civis — foi uma execução promovida pelos EUA no final da Segunda Guerra Mundial. Já o desastre de Chernobyl, causado pela explosão de um reator nuclear defeituoso em 1986, foi encoberto pelo governo da antiga União Soviética.
Nos anos seguintes, muitos dos sobreviventes das três hecatombes registraram episódios de leucemia, câncer e problemas no desenvolvimento infantil. Porém, um mistério persiste até os dias atuais: por que as pessoas conseguiram voltar a viver, e até progredir, em Hiroshima e Nagasaki, mas não em Chernobyl?
(Fonte: Junko Kimura/Getty Images)
A grande diferença entre os episódios ocorridos nas cidades japonesas e o da usina nuclear (hoje em território ucraniano) é quanto à natureza da contaminação, que envolve, em última instância, o nível de radiação espalhada pela explosão de uma bomba atômica e de um reator nuclear ativo.
Primeiramente, é preciso levar em conta que as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki foram detonadas muito acima do nível do solo para que as explosões “rendessem mais”, ou seja, aumentassem o nível de devastação.
No entanto, esse fato contribuiu para que a radiação se espalhasse por uma área maior, fazendo com que ao longo dos anos seus níveis fossem considerados seguros para a habitação. A explosão de Chernobyl, por outro lado, embora de intensidade menor, ocorreu ao nível do solo, deixando grande acúmulo de detritos e até pedaços do reator contaminado no local.
(Fonte: Sean Gallup/Getty Images)
Um dos principais impedimentos para se viver em Chernobyl é a quantidade de material físsil existente no local. Essa substância — o urânio enriquecido com altas concentrações de urânio-235 (U-235) — é um isótopo que pode sustentar uma fissão nuclear, na qual o núcleo do átomo se divide em dois núcleos menores, com liberação significativa de energia.
Como uma arma nuclear, como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, maximizam a quantidade de energia liberada, isso significa consumir o máximo de urânio em um menor tempo possível. Ou seja, não é necessário muito urânio para que uma explosão seja considerável. Em Hiroshima, por exemplo, a bomba conhecida como Little Boy tinha 64 quilos de urânio.
Já o reator nuclear demanda quantidades muito maiores de urânio enriquecido para funcionar. No caso de Chernobyl, esse combustível chegava a 180 toneladas. Além disso, todo o urânio já gasto permanece armazenado no reator, até ser descartado.