Você sabia que orangotangos conseguem fazer beatbox?

09/07/2023 às 11:002 min de leitura

O beatbox, técnica que consiste em produzir batidas musicais complexas usando somente a boca, ficou muito famoso com o surgimento do hip-hop, nos anos 1970. No entanto, sons parecidos são encontrados desde bem antes disso: cantores de jazz, blues e música country usavam a boca nas músicas pelo menos desde o século XIX.

Mas a verdade é que essa técnica musical tão moderna pode ter origem na evolução dos primatas, há milhões de anos. Afinal, de acordo com descobertas científicas recentes, orangotangos também conseguem fazer beatbox.

Quer dizer... É claro que eles não reproduzem batidas musicais complexas para "mandar uma rima". Mas têm a capacidade anatômica de produzir sons com a boca e a garganta ao mesmo tempo — algo que é bastante complexo e forma a base de qualquer técnica como o beatbox.

A capacidade de emitir dois sons ao mesmo tempo

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

O beatbox, assim como a capacidade de formar palavras, só é possível porque os humanos podem emitir sons com a boca e a garganta ao mesmo tempo. É algo chamado de "bifonação", com sons vocálicos e surdos. 

Na fala humana, os sons vocálicos saem da laringe e formam as vogais. Já os sons surdos são resultado de movimentos da mandíbula, língua ou lábios; e são usados quando falamos as consoantes. Mas para falar e para fazer beatbox, nós usamos os dois tipos ao mesmo tempo.

Os cientistas sempre quiseram saber de onde vinha essa capacidade e como ela evoluiu na espécie humana. Encontrá-la nos orangotangos é um grande progresso nesse sentido. 

O mais próximo da nossa fala que encontramos no reino animal é o canto dos pássaros, mas eles têm poucas semelhanças anatômicas e evolutivas com os humanos. Já os orangotangos são nossos "parentes" entre os primatas e podem ajudar muito mais nessas pesquisas.

Os orangotangos que fazem beatbox

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Para chegar à conclusão de que a espécie têm essa capacidade anatômica singular, o cientista Adriano R. Lameira (da Universidade de Warwick, no Reino Unido) e a pesquisadora independente Madeleine Hardus analisaram 3.800 horas de vídeos de animais de Sumatra e Borneo, duas ilhas na Indonésia.

Foi possível observar as vocalizações semelhantes ao beatbox nos dois grupos, mesmo eles vivendo em duas ilhas separadas. Ou seja, trata-se de uma capacidade anatômica, e não cultural. Os dois grupos, aliás, usam o "beatbox" com finalidades distintas.

Em Sumatra, são as fêmeas que fazem vocalizações bifônicas para alertar outros membros do grupo de ameaças. Já em Borneo, são os machos que produzem esse tipo de barulho — com um ruído grave pela laringe e batidas pela boca —, quando estão em situação de combate.

De acordo com os autores do estudo, sabendo que essa habilidade vocal é parte do repertório geral dos primatas, é impossível ignorar as ligações evolutivas. Para eles, é possível que a fala humana tenha surgido com algo mais parecido com o beatbox, antes de evoluir para palavras organizadas em consoantes e vogais.

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