Artes/cultura
01/08/2023 às 06:49•2 min de leitura
Uma nova classe de objeto estelar pode ter sido descoberta recentemente por astrônomos e vem desafiando nossos conhecimentos sobre o ciclo de vida e morte das estrelas. Localizado a cerca de 15 mil anos-luz da Terra, o objeto em questão parece ser um magnetar, o núcleo comprimido de uma estrela gigante.
Ali, apertadinho em um espaço equivalente ao de uma cidade, está contido o equivalente à massa do nosso Sol. O resultado desta altíssima pressão é o tal magnetar, que geralmente emite ondas de rádio e pulsos de radiação eletromagnética extremamente brilhantes por alguns meses ou poucos anos, até chegar na "linha da morte". Porém, este novo objeto estelar vem desafiando nossos conhecimentos, brilhando forte há mais de três décadas.
Primeiro, vamos entender como funcionam os magnetares: mantendo uma gigantesca massa presa sob fortíssima pressão, estes objetos estelares giram rapidamente em seu próprio eixo. Seu campo eletromanético emite jatos de radiação, incluindo ali ondas de rádio que curiosamente seguem ritmos que se repetem em intervalos que variam entre poucos segundos e alguns minutos.
Magnetares normalmente brilham, emitem ondas sonoras e pulsos de radiação eletromagnética em intervalos de segundos ou poucos minutos (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Conforme o tempo vai passando, a tendência é que este campo eletromagnético vá enfraquecendo, a emissão de ondas de rádio pare totalmente depois alguns meses ou máximo em poucos anos, tudo isso enquanto a rotação do magnetar vai desacelerando. Chega então uma hora em que o objeto para de girar, com seu campo eletromagnético enfraquecendo ao ponto de não emitir radiação.
Entra em cena o GPM J1839-10, este novo objeto que vem desafiando o que sabemos sobre magnetares e sua "linha da morte", aparentemente brilhando fortíssimo e emitindo pulsos eletromagnéticos há mais de 30 anos. Segundo Natasha Hurley-Walker, uma radioastrônoma no Centro Internacional de Pesquisa de Radioastronomia (ICRAR, do inglês International Centre for Radio Astronomy Research), a descoberta deveria ser impossível. Ela vem liderando as pesquisas sobre o novo objeto recém-descoberto.
"O objeto que descobrimos está girando devagar demais para produzir ondas de rádios — está abaixo da linha da morte", disse Hurley-Walker em pronunciamento. A informação é do Live Science. "Assumindo se tratar de um magnetar, não seria possível para este objeto produzir ondas de rádio. Mas nós as estamos vendo."
Se confirmado se tratar de um magnetar, a descoberta pode abrir as portas para o surgimento de uma nova classe de objetos estelares. Descoberto em setembro de 2022, o GPM J1839-10 chamou a atenção por emitir ondas de rádio a cada 22 minutos enquanto brilhava muito forte por aproximadamente 5 minutos. Como dissemos anteriormente, o padrão para magnetares varia entre alguns segundos e poucos minutos, o que faz do objeto o magnetar com o maior ciclo já registrado.
Em magnetares comuns, a tendência é que seu campo eletromagnético enfraqueça e o objeto diminua sua atividade e velocidade de rotação (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Além disso, o GPM J1839-10 aparentemente está além de sua linha da morte. Este ciclo de mais de 20 minutos sugere que o magnetar esteja girando muito devagar. Curiosos, os astrônomos resolveram pesquisar um pouco mais sobre o curioso corpo estelar, revisando informações coletadas desde 1988. E, para sua surpresa, os dados mostram que o ciclo de 22 minutos vem se mantendo regular há 33 anos.
"Este objeto notável desafia nosso entendimento de estrelas de neutrons e magnetares, que são alguns dos objetos mais exóticos e extremos no universo", disse a radioastronoma. Para ela, sejá lá o que estiver por trás da existência do GPM J1839-10 e seu longo histórico de vida além da linha da morte, tal mecanismo é sem dúvidas "extraordinário".