7 síndromes com nomes de cidades e suas principais causas

09/08/2023 às 12:005 min de leitura

Você provavelmente já ouviu falar da Síndrome de Estocolmo. Descrevendo casos como o que ocorreu na Suécia na década de 1970, o distúrbio é muitas vezes retratado em filmes, séries de TV e livros que abordam situações envolvendo reféns.

O que você talvez não saiba é que várias outras cidades já foram "homenageadas" com nomes de problemas psicológicos, sejam eles definitivos ou temporários. Hoje, vamos te contar sobre 7 síndromes com nomes de cidades e o motivo por trás de suas respectivas denominações.

Em um artigo publicado na revista Names, o autor Ernest Lawrence Abel lista vários distúrbios psicológicos associados a cidades em todo o mundo. Abel é professor de psicologia na Wayne State University nos Estados Unidos, e publicou o texto em uma edição antiga da revista, em 2014. A seguir, você conhece sete síndromes com nomes de cidades descritas no artigo:

1. Síndrome de Estocolmo

Provavelmente a mais famosa da lista, a Síndrome de Estocolmo descreve situações nas quais uma pessoa é sequestrada e desenvolve algum tipo de vínculo com seus sequestradores ou agressores. O nome faz referência a um assalto a banco que aconteceu na cidade sueca em 1973.

Estocolmo, na Suíça, foi palco de sequestro que deu nome a síndrome na qual reféns se apegam aos sequestradores (Fonte: Getty Images/Reprodução)Estocolmo, na Suíça, foi palco de sequestro que deu nome a síndrome na qual reféns se apegam aos sequestradores (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Na ocasião, quatro funcionários da empresa foram mantidos reféns com dinamite amarrada em seus corpos por seis dias, período no qual acabaram de alguma forma simpatizando com os bandidos. Depois do episódio, eles teriam afirmado ter mais medo da polícia do que dos assaltantes, chegando a negar testemunhar contra os ladrões e angariar fundos para ajudar na defesa dos criminosos. Uma das reféns chegou a se tornar noiva de um dos assaltantes.

Leia também: A Síndrome de Estocolmo é mesmo real? Novos estudos dizem que a condição pode ter sido inventada pela polícia

2. Síndrome de Lima

Sendo o oposto do distúrbio listado acima, a Síndrome de Lima descreve situações nas quais o sequestrador passa a se aproximar da pessoa sequestrada, desenvolvendo uma espécie de afeição pela vítima. O nome alude a um caso ocorrido na cidade peruana em 1996, quando um grupo revolucionário invadiu a residência da embaixada japonesa e fez 600 reféns.

Síndrome de Lima ganhou este nome após sequestro no Peru resultar em sequestradores simpatizando com suas vítimas (Fonte: Getty Images/Reprodução)Síndrome de Lima ganhou este nome após sequestro no Peru resultar em sequestradores simpatizando com suas vítimas (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Os invasores simpatizaram tanto com suas vítimas que em poucos dias começaram a libertá-las sem fazer distinção: por exemplo, a mãe do então presidente Peru, que em tese seria uma refém valiosa, foi libertada. No fim das contas, depois de quatro meses de negociação, o grupo deixou quase todos saírem do local, ficando com somente uma pessoa presa. Depois disso, a polícia invadiu o local, pondo um fim ao sequestro que resultou na morte de dois invasores e um policial.

3. Síndrome de Londres

Indo na direção contrária das duas anteriores, a Síndrome de Londres é relacionada a ocasiões em que a vítima antagoniza seu captor. Não raramente, tal comportamento acaba resultando em ataques físicos e até mesmo na morte da pessoa sequestrada. O distúrbio foi batizado após a invasão da embaixada iraniana em Londres, em 1981. Durante a ação, 26 pessoas foram feitas reféns e uma delas constantemente discutia e argumentava com os bandidos, mesmo com os demais pedindo que ela parasse com tal comportamento.

Síndrome de Londres foi batizada após episódio na capital da Inglaterra em que refém antagonizou sequestradores até ser morto (Fonte: Getty Images/Reprodução)Síndrome de Londres foi batizada após episódio na capital da Inglaterra em que refém antagonizou sequestradores até ser morto (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Quando as negociações com as autoridades não prosseguiram como o esperado, os criminosos decidiram matar um dos reféns para mostrar que a coisa era séria. Adivinhe quem foi escolhido para ser eliminado? Pois é, acabaram matando o refém que tomou para si o papel de antagonista, tendo seu corpo sido jogado na rua após o ato, como uma forma de os bandidos mostrarem ao outro lado que não estavam ali de brincadeira.

4. Síndrome de Veneza

Esta já não envolve sequestros, mas é até mais macabra. A Síndrome de Veneza descreve situações nas quais pessoas visitam a cidade italiana com um único objetivo: o de tirar a própria vida. A maior parte das pessoas que sofreram desta síndrome eram homens e mulheres de origem alemã. Uma das teorias é de que elas teriam sido de alguma forma impactadas pelo livro Morte em Veneza, do escritor alemão Thomas Mann.

Após turistas visitarem a cidade italiana para cometer suicídio, fenômeno foi batizado como Síndrome de Veneza (Fonte: Getty Images/Reprodução)Após turistas visitarem a cidade italiana para cometer suicídio, fenômeno foi batizado como Síndrome de Veneza (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Entre os anos de 1988 e 1995, 51 visitantes estrangeiros foram diagnosticados com o distúrbio psicológico, um número bem alto para um período tão curto. Deste total, 16 pessoas conseguiram concluir o ato e 35 sobreviveram à tentativa de suicídio. Quando entrevistados, os sobreviventes teriam demonstrado uma mesma linha de raciocínio: eles associavam Veneza a declínio e decadência.

5. Síndrome de Paris

Afetando em grande maioria visitantes do Japão, a Síndrome de Paris descreve crises com sintomas de ansiedade, delírios e alucinações, ocorridas geralmente durante a primeira visita à cidade francesa. Em média ocorrem 12 casos por ano, com o primeiro tendo sido registrado oficialmente em 2004, e é mais comum entre japoneses na casa dos 30 anos. Ainda não há uma explicação exata sobre o fenômeno que afeta tantos viajantes vindos do Japão.

Síndrome de Paris é mais comum entre turistas japoneses na faixa dos 30 anos de idade (Fonte: Getty Images/Reprodução)Síndrome de Paris é mais comum entre turistas japoneses na faixa dos 30 anos de idade (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Algumas suposições incluem o jet lag como possível catalisador do problema, mas também existe a possibilidade de haver um forte impacto do choque cultural. Além disso, existe ainda a expectativa romantizada de que Paris seja cidade exótica e amigável, quando na verdade seus habitantes costumam ser descritos como frios e distantes. Isso sem contar a barreira da comunicação. O caso é tão recorrente que a Embaixada Japonesa tem uma central de atendimento telefônico para auxiliar pessoas passando pelo problema. Em casos mais graves, a solução é botar a pessoa em um avião de volta ao Japão.

6. Síndrome de Florença

Você provavelmente já experimentou vertigem ao visitar um lugar com edifícios muito altos ou já sentiu certa euforia, com o coração batendo mais forte, quando foi a um local que desejava muito conhecer. Agora imagine essas sensações, mas com uma potência tão forte a ponto de causar desmaios e até delírios. Pois é justamente disso que se trata a Síndrome de Florença. Com mais de 100 casos registrados desde a década de 1980, este fenômeno seria uma homenagem ao município italiano se não fosse um distúrbio psicológico que pode levar visitantes direto para uma cama de hospital.

A estonteante beleza da cidade italiana de Florença pode deixar visitantes com palpitações, tontura e causar desmaios, podendo ser necessária a hospitalização do turista (Fonte: Getty Images/Reprodução)A estonteante beleza da cidade italiana de Florença pode deixar visitantes com palpitações, tontura e causar desmaios, podendo ser necessária a hospitalização do turista (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Descrita como sendo o resultado da antecipação e posterior experiência de visitar as riquezas da belíssima cidade, como sua arquitetura antiga e os famosos museus locais, a Síndrome de Florença não raramente faz com que turistas sejam hospitalizados. Em casos mais graves, relatos apontam que alguns visitantes chegaram a desenvolver psicose paranoica. Mas geralmente são necessários apenas alguns dias de repouso para desaparecerem os principais sintomas, que podem incluir palpitações, tontura, desmaios e até alucinações.

7. Síndrome de Jerusalém

Tendo seu primeiro caso registrado na década de 1930, a Síndrome de Jerusalém é diretamente ligada à religião e afeta em grande maioria cristãos e judeus. Seu principal sintoma é o delírio, que faz com que o turista comece a acreditar ser uma figura bíblica, como Jesus ou Moisés, por exemplo. Cerca de 100 casos do distúrbio psicológico são registrados anualmente, com aproximadamente 40% dos casos resultando em internação.

Síndrome de Jerusalém faz turistas acreditarem que são figuras bíblicas (Fonte: Getty Images/Reprodução)Síndrome de Jerusalém faz turistas acreditarem que são figuras bíblicas (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Além do delírio, esta síndrome muitas vezes leva as pessoas a pregar aos berros nas ruas, geralmente alertando sobre a chegada do fim dos tempos. Também há casos em que a pessoa sente compulsão pela purificação do corpo, raspando todo o cabelo e pelos, tomando vários banhos seguidos e cortando as unhas das mãos e dos pés frequentemente. Em geral, os sintomas desaparecem após algumas semanas de repouso depois da visita à cidade sagrada.

Não para por aí

Além dos sete distúrbios psicológicos descritos aqui, existem vários outros batizados em "homenagem" a cidades. Nem sempre a relação com o local é direta, muitas vezes simplesmente fazendo alusão a comportamentos comuns a certas áreas ou a costumes locais. Por exemplo, a Síndrome de Detroit é usada para descrever a substituição de funcionários mais experientes por outros mais jovens e remete às montadoras de automóveis, comuns ao local, que estão sempre produzindo novos modelos de carros em detrimento de modelos antigos.

Já a Síndrome de Amsterdã surgiu como descrição do popular e criminoso ato cometido por alguns homens italianos, que compartilhavam fotos ou vídeos de suas esposas nuas ou durante relações sexuais sem seu conhecimento e permissão. Em teoria, o nome faz alusão ao Distrito da Luz Vermelha na cidade holandesa, onde mulheres ficam nuas em vitrines, oferecendo serviços sexuais.

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