Artes/cultura
15/08/2023 às 08:00•2 min de leitura
Em 2016, quando o biólogo marinho Stephen Palumbi visitava o Atol de Bikini, uma ilha paradisíaca com uma lagoa azul no centro, nas Ilhas Marshall, fez uma descoberta surpreendente. O local, que funcionou como laboratório de testes de bombas nucleares para os EUA de 1946 a 1958, havia se transformado em um santuário marinho, ou seja, a própria toxicidade radioativa do local funcionou como proteção da vida selvagem.
A viagem, patrocinada pela produtora de TV NHNZ da Nova Zelândia, previa uma estadia de dez dias para exibição no documentário Big Pacific, apresentado pela emissora norte-americana PBS. Percebendo um trecho obscuro entre os recifes de coral, Palumbi decidiu mergulhar com seus colegas para investigar.
Mergulhando em um dos lugares mais radioativos do planeta, a equipe logo tomaria alguns sustos, e o primeiro deles veio do sistema de navegação do barco, De acordo com os instrumentos, eles haviam encalhado. Na verdade, os sistemas de navegação estavam registrando ilhotas já afundadas pelos americanos no arquipélago que eles passaram a administrar no sistema "fideicomisso", após o final da Segunda Guerra.
(Fonte: Stephen Palumbi/Instagram)
O primeiro passo foi seguir uma fenda misteriosa no recife. Embora essas fissuras em estruturas de coral sejam comuns, a encontrada no atol era uma linha perfeitamente reta de 1,5 quilômetro até o fundo do mar, resultado de uma “cicatriz” no meio da lagoa, deixada pelo artefato americano mais devastador já detonado: uma bomba H.
"Encontramos, para nossa surpresa, não apenas corais dispersos, mas comunidades de corais grandes e saudáveis muito abundantes — corais maiores que carros espalhados nas bordas de uma cratera de bomba de hidrogênio", disse Palumbi à Smithsonian Magazine.
Entre as florestas de corais de oito metros de altura, cardumes de peixes-papagaios, bodiões e tubarões compunham um mundo esquecido de abundância inexplicável.
(Fonte: Jack Niedenthal/US Archives)
Após deslocar todos os habitantes do Atol de Bikini, do qual eram guardiões oficiais perante a ONU, para a ilha de Kili, os EUA detonaram 67 armas nucleares entre 1946 e 1958, o equivalente a 210 megatons de TNT, ou 7 mil bombas de Hiroshima. A explosão da bomba H vaporizou três ilhas.
O que chamou a atenção dos pesquisadores atuais não foi a existência dos inúmeros cardumes de peixes, mas sim o crescimento tão próspero dos corais nos últimos 50 anos. Saber como foi possível essa emergência a partir de um cenário ainda tóxico até hoje é uma questão que continua sob investigação.
De acordo com Palumbi, “a terrível história do Atol de Bikini é um cenário irônico para pesquisas que podem ajudar as pessoas a viver mais”. Para o biólogo, "entender como os corais podem ter recolonizado as crateras de bombas cheias de radiação", pode dar pistas sobre como manter o DNA intacto.