Ciência
26/08/2023 às 12:00•2 min de leitura
A chegada dos primeiros humanos no continente americano ainda é motivo de muitas dúvidas para a ciência. Oficialmente, a chamada cultura Clóvis representa o grupo mais antigo reconhecido.
Porém, isso não significa que eles tenham sido os primeiros a chegar aqui: existem registros anteriores da presença de humanos no Novo Continente, mas que ainda não podem ser consideradas provas conclusivas.
(Fonte: Getty Images)
A cultura Clóvis é particularmente significativa para compreender a chegada dos humanos na América. Isso porque eles deixaram uma série de evidências — que datam de até 13 mil anos — que podem ser encontradas do Canadá até o norte da Venezuela. Isso significa que eles não apenas estiveram por aqui, como tiveram sucesso para espalhar seu modo de vida por todo o continente. Existiram grupos de humanos que chegaram antes, mas não há qualquer evidência de que eles tenham se dado tão bem assim.
As ferramentas atribuídas à cultura Clóvis são tão comuns que até 1975 era um consenso que eles foram os primeiros humanos por aqui. Isso só mudou quando um sítio arqueológico foi descoberto no sul do Chile e datado com cerca de 14 mil anos. Como a hipótese mais aceita da chegada no continente americano é da Ponte Terrestre de Bering, para que eles tenham saído do norte do continente e chegado ao extremo sul, a presença deles na América deveria ser de muito tempo antes. Mas quanto tempo, exatamente?
O melhor registro já encontrado sugere que há 16 mil anos os humanos já estavam vivendo por aqui. Em 2009, uma escavação encontrou ferramentas que foram submetidas a datação por radiocarbono, o que resultou nessa estimativa, atualmente a mais antiga entre as aceitas.
Existe também um estudo — ainda não revisado por pares — sobre ferramentas de pedra ao lado de dentes de animais datados de 18 mil anos. Essas são as estimativas com evidências aceitas pela comunidade científica. Porém, estudos mais recentes sugerem que a migração para a América pode ter acontecido muito antes.
Preguiça-gigante. (Fonte: Getty Images)
Em 2020, durante uma escavação na Caverna Chiquihuite, no México, foram encontrados quase dois mil artefatos de pedra, cuja datação por radiocarbono e luminescência estimulada opticamente sugeriu que os humanos podem ter ocupado a área de 31 a 33 mil anos atrás. Porém, os cientistas — incluindo os que participaram da escavação — reconhecem que faltam evidências que comprovem que os artefatos foram realmente feitos por humanos, podendo ser apenas geofatos — rochas normais que parecem artificiais.
Mais tarde, em 2021, um estudo buscou estimar a origem de 60 pegadas humanas que estavam incorporadas em um leito de lago, no sul do Novo México. Para isso, foram usados métodos de datação por carbono em sementes que estavam nos sedimentos, dentro das pegadas. A estimativa indicou que elas estariam por ali há pelo menos 21 mil anos, porém, especialistas questionam a precisão do método utilizado para isso.
Até mesmo no Brasil já foram encontrados ossos de preguiças gigantes, datados de 27 mil anos, que teriam sido transformados em um pingente. O estudo foi publicado em julho deste ano, mas ainda precisa de outras evidências da presença de humanos para que possa ser validado — não foi localizado nenhum esqueleto humano nas proximidades, por exemplo.
Embora pareça claro que trata-se de algo que somente seres humanos poderiam fazer, não há outros indícios que sustentem a presença de pessoas em uma região tão isolada do litoral — a descoberta foi feita no estado do Mato Grosso — tantos anos atrás.