Rãs amazônicas emitem luz — e cientistas querem entender o porquê

31/08/2023 às 08:002 min de leitura

À noite, a Floresta Amazônica pode ser um tanto assustadora, devido aos predadores e à escuridão. Mas toda essa escuridão pode não ser totalmente verdadeira. Muitos animais emitem luzes que não são enxergadas a olho nu pelas pessoas e isso está fascinando os cientistas de vários países.

Em 2017, cientistas brasileiros e argentinos descobriram a existência de rãs que brilham no escuro. Tratava-se da espécie Hypsiboas punctatus, presente em praticamente toda a América do Sul.  Desde então, o número de espécies com essa capacidade não para de aumentar.

"Descobrimos um fenômeno fotobiológico, por assim dizer (...). Quando fomos olhar os animais que estavam em cativeiro e detectamos esta fluorescência tão intensa, ficamos emocionados. Foi bastante desconcertante", disse o pesquisador Carlos Taboada à AFP na época.

Número de espécies de rãs fluorescentes já chega a 151

Cientista mostra rã emitindo luz. Fonte: Arquivo Pessoal: COURTNEY WHITCHERCientista mostra rã emitindo luz. Fonte: Arquivo Pessoal: COURTNEY WHITCHER

Neste ano, pesquisadores de vários países, incluindo o Brasil, estudaram o comportamento fluorescente em mais de 151 espécies de rãs da região amazônica. Isso é incrível, pois desde a primeira descoberta de fluorescência nesse tipo de animal, o número de espécies com essa capacidade não para de aumentar.

A hipótese dos pesquisadores é que esses animais emitam luz para se comunicarem uns com os outros e também para passarem mensagens aos predadores, como a de que seriam tóxicos se comidos.

“É bastante provável que essas espécies estejam usando a sua visão para realizar tarefas complexas, como sinalização. Os pesquisadores não encontraram esse tipo de fluorescência em espécies aquáticas, que têm olhos muito menores e vivem em águas turvas, então parece que isso é algo que evoluiu por um impulso sensorial para servir a um propósito muito específico.”, disse Amartya Tashi Mitra, doutoranda da Universidade de Cincinnati ao site americano Atlas Obscura.

Fonte: arquivo Pessoal: COURTNEY WHITCHERFonte: arquivo Pessoal: COURTNEY WHITCHER

A fluorescência de cada animal é diferente. Alguns emitem cores alaranjadas, o que indicaria que o objetivo seria afugentar predadores. Outros animais emitem cores azuladas, esverdeadas, o que pode mostrar que a luz é uma das maneiras com as quais esses anfíbios se comunicam entre si, ainda que eles também emitam sons.

Toda essa atividade fluorescente só é visível com a ajuda de luz ultravioleta (luz negra). Isso explicaria o porquê dessa capacidade ter demorado tanto para ser descoberta pela ciência.

Cientistas recrutam pessoas comuns para ajudá-los

Para entender quais animais têm a capacidade de brilharem no escuro, um projeto está pedindo que pessoas comuns usem luz ultravioleta para iluminar os animais que encontrarem em seus quintais, como os insetos. Depois, carreguem imagens de suas descobertas ao site da iniciativa (em inglês).

O site existe desde 2019 e conta com imagens de insetos, anfíbios e plantas que brilham no escuro quando expostos à luz negra.

“Não é apenas uma atividade divertida levar uma luz negra para o seu quintal e observar coisas brilhantes e legais, mas também pode ajudar legitimamente os cientistas a fazer novas descobertas. Vivemos neste mundo brilhante que qualquer um tem a capacidade de descobrir.”, diz a pesquisadora Courtney Whitcher, uma das cientistas que estuda as rãs da Floresta Amazônica.

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