Os segredos do 'cheiro da eternidade' da mumificação egípcia

05/09/2023 às 10:002 min de leitura

Uma equipe de cientistas conseguiu recriar o aroma que envolvia a nobre Senetnay, uma egípcia de alto escalão que viveu por volta de 1450 a.C. e que foi mumificada com a precisão de uma verdadeira obra de arte. Os avanços na análise química nos permitiram desvendar o segredo por trás do "cheiro da eternidade", revelando uma fascinante jornada pela cultura, história e espiritualidade das práticas funerárias do Antigo Egito.

Perfume da nobreza

Vaso canópico onde foram encontrados os pulmões de Senetnay. (Fonte: Christian Tepper - Museu August Kestner / Divulgação)Vaso canópico onde foram encontrados os pulmões de Senetnay. (Fonte: Christian Tepper - Museu August Kestner / Divulgação)

A nobre Senetnay — que desfrutava do prestigioso título de "Ornamento do Rei" e servia como ama de leite do Faraó Amenófis II — repousa em um túmulo real no Vale dos Reis, local onde descansam vários dos poderosos faraós do Império Egípcio. Seus órgãos mumificados foram cuidadosamente guardados em vasos canópicos hermeticamente fechados, preservando não apenas sua memória, mas também seu aroma peculiar. 

Por mais de um século, esses potes escondiam segredos sobre a receita de um bálsamo de mumificação que era mais complexo do que qualquer outro da mesma época.

A arqueóloga Barbara Huber, do Instituto Max Planck de Geoantropologia, na Alemanha, embarcaram em uma missão de análise detalhada. Utilizando técnicas avançadas de cromatografia gasosa e espectrometria de massa, eles examinaram seis amostras de bálsamo de dois dos frascos, que antes continham os pulmões e o fígado de Senetnay. O que encontraram foi extraordinário.

A composição do bálsamo revelou uma mistura rica e complexa de ingredientes. Cera de abelha, óleos vegetais, gorduras animais, betume natural e resinas de árvores coníferas eram alguns dos elementos que preservavam meticulosamente os órgãos da nobre egípcia. Ainda, a equipe descobriu a presença de cumarina, uma substância que possui aroma de baunilha e amêndoas e tinha por função dar fragrância à mistura. 

Complexidade e conexões

Resina de dammar (esq.) e frasco com antigo perfume recriado (dir.). Fonte: Barbara Huber / Divulgação)Resina de dammar (esq.) e frasco com antigo perfume recriado (dir.). Fonte: Barbara Huber / Divulgação)

O que torna esse achado ainda mais intrigante é a diversidade nas proporções dos ingredientes encontrados em cada frasco. Os pesquisadores descobriram que o frasco que abrigava os pulmões de Senetnay continha dois ingredientes exclusivos, ou seja, que não faziam parte da receita do outro frasco. Isso sugere que a receita era personalizada para cada órgão, um testemunho da complexidade e cuidado empregados nesse processo.

Além disso, os ingredientes revelaram conexões comerciais surpreendentes para a época. Algumas substâncias usadas, como o larixol — oriundo da resina do pinheiro-larício, planta popular no Velho Mundo —, indicam que os antigos egípcios estabeleciam rotas comerciais com locais exóticos (para a época) fora do Egito muito antes do que se pensava. 

Outra substância perfumada, acredita-se que o dammar, uma resina extraída de árvores encontradas em parte da Ásia e da Índia, foi encontrada em um dos frascos. Outra hipótese é a resina de árvores do gênero Pistacia, vinda do Mediterrâneo, confirmando que os egípcios conseguiam alcançar longas conexões comerciais.

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