Ciência
20/09/2023 às 04:00•3 min de leitura
Por mais que nossa tecnologia tenha avançado bastante nas últimas décadas, possibilitando a coleta de informações cada vez mais detalhadas sobre espaço sideral, ainda estamos longe de ter resposta para diversas questões. Um ótimo exemplo, e um dos mais fascinantes de todos, são os misteriosos buracos negros. Ferramentas como a poderosa sonda espacial James Webb já nos fornecem dados mais detalhados, mas ainda estamos longe de desvendar os segredos do espaço.
Porém, um novo estudo pode nos ajudar a entender melhor ao menos um dos mistérios: os já citados buracos negros, corpos supermassivos cuja atração gravitacional é tão forte que nem mesmo a luz é capaz de escapar... ou não. Afinal, segundo a nova pesquisa, pode ser possível que informações escapem de dentro dos buracos negros, o que pode possibilitar um entendimento maior sobre eles no futuro.
(Fonte: Getty Images)
Há pouco mais de meio século, em 1971, o astrofísico John Wheeler marcou a história ao afirmar que "buracos negros não têm cabelos". Surgia ali a Teoria da Calvície, que em um primeiro momento pode parecer estranha e até engraçada, mas trata de um assunto importante que, segundo o novo estudo, não necessariamente reflete a realidade.
Quando uma estrela colapsa, comprimindo toda a sua massa em um pequeno ponto no espaço, um campo gravitacional fortíssimo é criado. Em teoria, esta gravidade é tão forte que informação alguma pode escapar de sua atração, incluindo a luz.
De acordo com a Teoria da Relatividade de Einstein, apenas três informações são necessárias para definir um buraco negro: massa, carga elétrica e rotação. Daí veio a afirmação de Wheeler: a falta de "cabelos" nada mais é do que a escassez de dados e informações sobre o fenômeno.
Ao dizer que buracos negros são "carecas", essencialmente Wheeler fazia alusão às três únicas informações necessárias – e disponíveis – para identificar buracos negros. Com tão poucos dados disponíveis, é virtualmente impossível até mesmo diferenciar dois buracos negros gerados a partir de diferentes estrelas com as mais variadas composições. Agora, mais de 50 anos depois, uma nova teoria afirma que sim, buracos negros podem ter "cabelos".
(Fonte: Getty Images)
Em um artigo publicado no site arXiv, um banco de dados e curadoria de pesquisas da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, um grupo de estudiosos afirma que é possível que informações escapem da enorme força gravitacional dos buracos negros. O texto, publicado em junho deste ano e ainda não revisado por pares, sugere um olhar sob uma perspectiva diferente, usando a distorção no lugar da curvatura do espaço-tempo.
Embora ambas estejam compreendidas na Teoria da Relatividade, a ideia de curvatura do espaço-tempo foi utilizada por Einstein antes do conceito da distorção, levando cientistas a utilizarem o primeiro conceito como padrão. Mas foi justamente utilizando esta segunda ideia que o novo estudo chegou à conclusão de que pode, sim, existirem "cabelos" nos buracos negros.
Também conhecido como Equivalente Teleparalelo da Teoria da Relatividade Geral, o conceito utiliza linhas paralelas em seus cálculos matemáticos, oferecendo uma ótica diferente da mais difundida. Ao aplicarem as linhas paralelas em conjunto dos campos escalares aos cálculos relativos aos buracos negros, a equipe percebeu que existe a possibilidade de que informações possam escapar da gravidade massiva em alguns pontos do horizonte de eventos.
(Fonte: Getty Images)
No contexto matemático e físico, campos escalares nada mais são do que a atribuição de uma unidade escalar para cada ponto no espaço. Um exemplo bastante conhecido de campo escalar é o Bóson de Higgs, popularmente conhecido como a "partícula de Deus". Ao aplicar campos escalares à distorção do espaço-tempo, o time acabou "encontrando cabelos" nos buracos negros. Embora ainda sejam apenas alguns "fios", a potencial descoberta pode levar a mais estudos e observações que nos ajudem a compreender os assustadores e intrigantes corpos supermassivos.
Ainda deve levar um bom tempo até que possamos testar a possibilidade de informações escaparem e serem coletadas nas proximidades do horizonte de eventos. Porém, o estudo ao menos nos dá esperanças de um dia desvendarmos o que acontece dentro de um buraco negro de forma segura, sem o risco de sermos tragados por sua fortíssima gravidade.