Ciência
25/09/2023 às 10:00•2 min de leitura
Restritos a uma pequena mancha de floresta nativa nas proximidades do Pico de Vara, em Portugal, os priolos sempre foram aves difíceis de monitorar. Em 1991, a Sociedade Real para a Proteção das Aves do Reino Unido chegou a estimar que a população desses animais se situava num nível alarmante de cerca de 100 casais reprodutores.
Por conta disso, alguns pesquisadores passaram anos tentando entender melhor a alimentação, nidificação e outros comportamentos do priolo para ajudar na conservação da espécie. Agora, décadas depois, a ave que um dia foi considerada criticamente ameaçada de extinção parece estar se recuperando.
(Fonte: GettyImages)
Durante boa parte de sua vida, o biólogo conservacionista Jaime Ramos, da Universidade de Coimbra, estudou sobre os priolos. Em 1995, Ramos publicou um estudo a respeito da dieta e preferências de habitat dessa espécie, o que se tornou crucial para a conservação da ave.
O trabalho de Ramos e de outros pesquisadores ajudou a mostrar que esses pássaros são dispersores de esporos de diversas espécies nativas de samambaias. Por conta disso, os priolos desempenham um papel importantíssimo na regeneração natural das florestas. Em 2005, no entanto, esse pássaro esteve em apuros. Após séculos de declínio populacional, a ave foi listada como "criticamente ameaçada" pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Porém, desde então, foram duas décadas de esforços de conservação centrados na restauração do habitat desses pássaros. Isso ajudou a espécie a fazer uma recuperação promissora. Além disso, o regresso dos priolos não só é motivo de orgulho para a comunidade local, como também atrai investigadores e turistas de todo mundo interessados na ave e no seu sucesso de conservação.
(Fonte: GettyImages)
No século XIX, a ave gordinha era caçada por agricultores que a consideravam uma praga nos seus pomares de laranja. As atividades humanas, incluindo agricultura e plantio comercial de cedros-japoneses não nativos usados para construções e barcos, também levaram à destruição do habitat natural dessas criaturas.
Com base nas observações de Ramos, a restauração desse habitat surgiu como a principal forma de preservar a espécie. Desde 2003, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves lidera um programa de conservação centrado na restauração de habitats. Financiados pela União Europeia e pelo governo dos Açores, a organização sem fins lucrativos iniciou um projeto de cinco anos em colaboração com o departamento florestal de São Miguel para salvar a floresta e os priolos.
Se houve uma época onde apenas 100 priolos foram identificados na natureza, hoje a situação é um pouco diferente. Em 2010, com uma estimativa populacional de cerca de 1 mil aves, a espécie saiu da classificação crítica e passou a ser considerada apenas como "ameaçada de extinção". Em 2016, a IUCN rebaixou novamente a ave para "vulnerável", uma vez que a população estimada já havia crescido para 1,3 mil indivíduos.
Apesar de todo o trabalho de restauração do habitat e conservação da espécie até agora, os pesquisadores alertam: a batalha não acabou. Os priolos ainda enfrentam algumas ameaças, como mamíferos invasores, e ainda precisam de atenção redobrada. De todo modo, o cenário já é consideravelmente melhor do que um dia foi.