Ciência
30/09/2023 às 10:00•2 min de leitura
Híbrido entre gado bovino (Bos taurus) e bisão-americano (Bison bison), o beefalo nasceu da necessidade de criar um gado “superior” que combinasse capacidade de ordenha e facilidade de manejo das vacas domésticas, com a robustez e qualidade da carne dos bisões.
A ideia original partiu do pecuarista e conservacionista americano Charles "Buffalo" Jones. Primeiro guarda-florestal do Parque Nacional de Yellowstone, ele começou, no ano de 1906, a cruzar bisões machos (conhecidos popularmente nos EUA como búfalos) com vacas domésticas. A finalidade de produzir um animal forte, que pudesse ser comercializado, veio da preocupação de Jones com os icônicos bisões, que na época estavam à beira da extinção por conta da caça comercial em massa e degradação dos seus habitats.
O animal resultante dessas primeiras experiências foi chamado de cattalo, e o gado envolvido era constituído principalmente de raças europeias, como Charolês, Hereford e Angus. Na época, os machos dessa nova espécie eram inférteis, porque a proporção de sangue de bisão nos descentes tinha que ser reduzida, segundo os veterinários e zootecnistas.
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(Fonte: American Beefalo Association/Reprodução)
Após as adaptações genéticas necessárias para que o animal pudesse ser considerado “completo”, com um grau de sangue de 3/8 bisão-americano e 5/8 de gado europeu, o beefalo tem hoje mais “cara” de boi.
No entanto, apresenta inúmeras características de bisão, como criação a pasto e uso em monta natural (acasalamento) após atingir a maturidade sexual aos 14 meses. Outras características positivas incluem rápido ganho de peso (prontos para o abate ou produção de carne aos dois anos), alta fertilidade, redução de intervalo de partos e longevidade.
A chegada de beefalos no Brasil ocorreu no final de 1991, quando Francisco José Ribeiro Junqueira importou 106 desses animais diretamente da American Beefalo World Registry (ABWR), nos EUA, para sua fazenda em Campo Grande. Em pouco tempo, os bovinos conseguiram se adaptar das temperaturas próximas a 0 °C de Wyoming para os 35 °C do Pantanal Matogrossense.
(Fonte: American Beefalo Association/Reprodução)
Quando "Buffalo" Jones desistiu da ideia de formar um rebanho de beefalos, os animais existentes passaram a ser criados pelos proprietários de ranchos locais. Para evitar um crescimento desordenado da horda, as autoridades distribuíram licenças de caça limitadas.
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Mas esse equilíbrio foi rompido quando vários beefalos fugiram e entraram no Parque Nacional do Grand Canyon, onde a caça é proibida e não há predadores naturais. Com crescimento de 50%, esse rebanho original teve impactos negativos no ecossistema de pastagens da região, esgotando fontes de água com sua sede insaciável e destruindo monumentos dos povos originários.
Até 2025, o Serviço Nacional de Parques anuncia em seu site que reduzirá o tamanho do superpovoado rebanho de bisões do Parque Nacional do Grand Canyon "para menos de 200, a fim de proteger os recursos do parque".