Artes/cultura
18/10/2023 às 10:00•2 min de leitura
No final do século XIX, as Ilhas Galápagos, pertencentes ao Equador, foram "atacadas" por baleeiros, colonos e piratas que estavam atrás da caça furtiva de algumas espécies nativas. Entre elas, uma das mais afetadas foram as tartarugas-gigantes-de-galápagos, cuja população despencou com o tempo. No entanto, no sudeste do arquipélago, o problema foi ainda mais grave: em Española, o número delas caiu de mais de 10 mil para apenas 14.
Então, foram décadas de trabalhos e conservação para tentar restaurar a população dessas criaturas na região. Desde então, conservacionistas passaram a erradicar espécies invasoras e criar tartarugas-gigantes em cativeiro. Anos depois, a reinserção desses animais à natureza tem mudado a cara da ilha.
(Fonte: GettyImages)
Desde que as 14 tartarugas de Española foram levadas em cativeiro entre 1963 e 1974, conservacionistas da ONG Galápagos Conservancy e da Direção do Parque Nacional de Galápagos reintroduziram quase 2 mil tartarugas-gigantes criadas em cativeiro. Esses animais, então, passaram a procriar na natureza e aumentaram a população para cerca de 3 mil espécimes.
Por conta da volta desses animais à ilha, a extensão de plantas lenhosas diminuiu na região e espaços de pastagem se expandiram. Se não bastasse, o regresso das tartarugas também ajudou o albatroz-ondulado, uma ave criticamente ameaçada de extinção que se reproduz exclusivamente em Española. O motivo? As tartarugas ajudam a limpar áreas cobertas de vegetação que servem como pistas para decolagem e aterrissagem para os albatrozes.
O segredo desse sucesso é que as tartarugas-gigantes de Galápagos são conhecidas como arquitetas ecológicas. À medida que esses animais navegam, fazem cocô e se arrastam pela natureza, eles alteram a paisagem. Eles pisoteiam árvores e arbustos jovens antes que eles cresçam o suficiente para bloquear o caminho de espécies como o albatroz-ondulado.
(Fonte: GettyImages)
A extensão de todos os efeitos ecológicos causados pelas tartarugas-gigantes-de-galápagos foi documentada em um novo estudo feito por James Gibb, cientista conservacionista e presidente da Galapagos Conservancy, e Washington Tapia Aguilera, diretor do programa de restauração das tartarugas-gigantes da Galapagos Conservancy.
Para estudar esses impactos de perto, os pesquisadores observaram imagens de satélite da ilha capturadas entre 2006 e 2020. As imagens mostram que, embora partes da ilha ainda registrem um aumento na densidade de arbustos e árvores, os locais onde as tartarugas recuperaram são mais abertos e semelhantes a uma savana.
De acordo com os cientistas, apenas uma ou duas tartarugas por hectare são suficientes para desencadear uma mudança considerável na paisagem. Os resultados em Galápagos são um bom presságio para outros projetos de reinserção de espécies na natureza. Porém, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Na própria Española, embora as tartarugas-gigantes estejam ocupadas pisoteando brotos e espalhando sementes, elas ainda têm mais trabalho a fazer. Em 2020, 78% da ilha ainda era dominada por vegetação lenhosa e é possível que leve mais alguns séculos para que as tartarugas-gigantes consigam restabelecer a proporção de gramíneas, árvores e arbustos que existiam no local antes da chegada dos europeus. De todo modo, essa longa transformação já está em andamento.