Artes/cultura
28/10/2023 às 04:00•2 min de leitura
Praticamente nenhum outro material na natureza é comparável à seda feita pelas aranhas, que são extremamente fortes e resistentes, mas também leves e flexíveis. Contudo, a produção em massa desse material para fins comerciais é quase impossível.
Para contornar esse problema, pesquisadores têm concentrado sua energia na fabricação de seda artificial proveniente de bichos-da-seda modificados geneticamente, os quais conseguem produzir uma seda até seis vezes mais forte que o kevlar — o material usado em coletes à prova de balas.
(Fonte: Getty Images)
Na visão dos cientistas, a fibra resistente produzida pelos bichos-da-seda um dia poderá ser usada em suturas cirúrgicas, curativos, coletes blindados e até mesmo em materiais estruturais para veículos. Além disso, existe a possibilidade dela um dia servir como alternativa mais ecológica aos materiais sintéticos, como o poliéster e o náilon.
Bichos-da-seda são cultivados há muito tempo pela matéria-prima que fornecem, mas as fibras que eles produzem naturalmente se quebram facilmente. Para driblar essa complicação, pesquisadores usaram uma ferramenta de edição genética chamada CRISPR-Cas9 para inserir genes da proteína da seda das aranhas nesses outros insetos.
Eles também fizeram alterações localizadas nos genes inseridos para garantir que eles cooperassem com os mecanismos existentes de produção de seda nos vermes. Como resultado, os ajustes permitiram que os bichos-da-seda geneticamente modificados produzissem fibras de seda totalmente resistentes, flexíveis e biodegradáveis.
Vale ressaltar que essas fibras não são tão elásticas ou tão fortes quanto a seda produzida naturalmente por aranhas, mas possuem propriedades mecânicas até melhores do que qualquer outra pessoa conseguiu obter até agora. Assim como as aranhas, os bichos-da-seda também revestem as fibras com uma camada protetora que pode ajudá-los a resistir à luz solar e à umidade — algo que ajuda na durabilidade do material.
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(Fonte: Getty Images)
Os pesquisadores envolvidos no estudo, que foi publicado na revista Matter, estão bem otimistas de que a comercialização em larga escala desse tipo de seda possa estar presente no futuro da nossa sociedade. Porém, antes de conseguirem manter uma escala de produção comercial, os investigadores terão que ultrapassar alguns obstáculos.
Em primeiro lugar, é preciso determinar se os genes inseridos da proteína da seda da aranha serão transmitidos às novas gerações de bichos-da-seda através da reprodução normal. Eles também precisarão cruzar esses insetos geneticamente modificados com bichos-da-seda atualmente usados no comércio.
Por fim, os pesquisadores terão que lidar com as questões de propriedade intelectual que poderiam surgir na distribuição de ovos de bicho-da-seda com DNA editado aos agricultores. Se não bastassem todos esses pontos, os bichos-da-seda são criaturas altamente suscetíveis a infecções e conhecidos por produzir fibras com propriedades mecânicas variáveis — algo que já é um obstáculo bem conhecido entre os produtores de hoje em dia.
No futuro, a expectativa é que novos estudos possam mexer um pouco mais no processo de reprodução para ver se os bichos-da-seda conseguirão produzir sedas de aranha ainda mais fortes e elásticas, transformando esse tipo de comércio de uma vez por todas.