Estilo de vida
01/11/2023 às 08:12•2 min de leitura
A dependência química em cocaína e seus derivados, como o crack, tem se tornado um grande desafio para a saúde pública em todo o mundo. Por isso, o anúncio feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre o desenvolvimento de uma vacina para o tratamento desse problema foi recebido com entusiasmo por pesquisadores e profissionais da área.
A vacina, chamada de “Calixcoca”, ainda está em fase de testes. Contudo, os resultados apresentados até agora em testes com animais mostraram-se animadores. Ao contrário de outros fármacos que não foram eficientes em testes clínicos, a vacina brasileira conseguiu bloquear moléculas da droga que estariam associadas ao vício.
Mais do que isso, os pesquisadores relataram que os fetos das ratas usadas nos testes também adquiriram proteção contra a dependência química. Isso indica a possibilidade de proteger fetos humanos gerados por mulheres dependentes químicas.
A iniciativa brasileira recebeu um prêmio pelos seus resultados: 500 mil euros por conquistar o Euro Health Innovation Awards para medicina latino-americana, patrocinado pela Eurofarma, gigante do setor de medicamentos.
“Sabemos como é difícil ter uma pessoa dependente em casa, como é sofrido para um acometido pela dependência ter que lidar com a ambivalência de usar ou não droga e como é ainda mais difícil para uma gestante dependente proteger seu feto e lidar com a dor da abstinência. Temos a missão de cuidar dessas questões”, disse Frederico Garcia, coordenador do projeto de pesquisa, em seu discurso durante a premiação.
(Fonte: Divulgação: UFMG)
Quando falamos em vacinas, imaginamos a prevenção de doenças causadas por organismos externos que tenham algum tipo de vida, como os vírus e as bactérias.
No caso da dependência química, ela não é consequência da invasão desses seres microscópicos ao nosso organismo, não sendo, portanto, ligada ao nosso sistema imunológico. A dependência química é, como o nome sugere, uma resposta orgânica relacionada a alterações químicas induzidas pelo consumo de drogas.
Ainda assim, os pesquisadores perceberam que poderiam fazer com que o sistema imunológico atuasse nesse caso, protegendo o paciente. Para isso, foi preciso fazer com que a cocaína fosse notada pelo sistema imunológico, o que era um desafio, pois a substância, ao ser consumida, torna-se muito pequena para chamar a atenção do nosso sistema de defesa.
Assim, a vacina traz um ativo que se junta às pequenas moléculas da droga, criando uma macromolécula. Essa macromolécula consegue chamar a atenção do sistema imunológico.
"Então, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos específicos que se encaixam, no modelo chave-fechadura, a essa macromolécula que, por ter o desenho molecular da cocaína na superfície da coroa superior, poderá se ligar à cocaína livre presente no sangue do indivíduo que fez uso da droga. Dessa forma, não haverá cocaína livre na corrente sanguínea para se ligar aos receptores que poderiam desencadear a dependência química da cocaína e todos seus efeitos deletérios", explicou o professor Felipe Terra, do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ-UFG), ao site da UFG. Felipe também faz parte da equipe que está desenvolvendo a vacina.