Ciência
17/11/2023 às 02:00•2 min de leitura
Pela primeira vez em mais de 60 anos, um mamífero muito raro que põe ovos foi avistado por cientistas. A equidna-de-bico-longo-de-attenborough (Zaglossus attenboroughi) foi capturada pelas câmeras durante uma grande expedição nas montanhas Ciclope, na província de Papua, na Indonésia.
Esse animal recebeu o nome do documentarista e conservacionista da vida selvagem Sir David Attenborough e só foi registrada por cientistas uma vez em 1961 — até então. Essas equidnas são consideradas monotremadas, o que significa que fazem parte do grupo exclusivo de mamíferos que botam ovos. Existem apenas cinco espécies restantes de monotremados na Terra, entre elas os ornitorrincos.
(Fonte: GettyImages)
A equidna-de-bico-longo-de-attenborough costuma viver em tocas e comer principalmente insetos, minhocas e cupins. Essas criaturas estão listadas como criticamente ameaçadas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN e só podem ser encontradas nas montanhas Ciclope.
O animal é caracterizado pelos espinhos de ouriço ao longo do seu corpo, focinho de tamanduá e pés de toupeira. Por conta da sua aparência híbrida, as equidnas compartilham seu nome com uma criatura mitológica grega que é metade humana e metade serpente. O fato delas serem monotremadas, inclusive, é justamente o motivo de serem tão diferentes de outros mamíferos.
Os monotremados se separaram do resto dos mamíferos há cerca de 200 milhões de anos. A equidna também tem um significado cultural para as pessoas da aldeia de Yongsu Sapari. Esse povo viveu nas encostas norte das montanhas Ciclope por 18 gerações. Em épocas de conflitos, a tradição do povo é que as duas partes brigadas deveriam buscar por uma equidna no topo da montanha e por um marlim no oceano. Uma vez encontrados, os animais simbolizariam o fim do conflito.
(Fonte: Expedição Ciclope/Divulgação)
Durante uma expedição iniciada em 2019, um grupo de pesquisadores de instituições de vários países montou mais de 80 câmeras nas trilhas da montanha Ciclope. Em quatro semanas de caminhada pelo local, os investigadores não avistaram nenhum sinal da existência das equidnas naquela região. Um terremoto repentino, então, forçou a equipe a evacuar a área. Um membro quebrou seu braço em dois lugares, outro contraiu malária e um terceiro teve uma sanguessuga presa ao olho por um dia e meio.
No último dia de expedição, os cientistas finalmente foram agraciados com a visita de uma equidna-de-bico-longo-de-attenborough. A identificação da espécie foi posteriormente conformada pelo mamologista Kristofer Helgen, do Australian Museum Research Institute.
Além do registro feito sobre o incrível mamífero que põe ovos, a expedição também marcou a primeira avaliação abrangente da vida de diversas espécies naquela região. Entre as novas descobertas, os investigadores encontraram diversas novas espécies de insetos e um gênero inteiramente novo de camarões terrestres e arbóreos.
Agora, os pesquisadores esperam que a redescoberta da equidna-de-bico-longo-de-attenborough e de todas essas novas espécies ajude a chamar a atenção para as necessidades de conservação das montanhas Ciclope e de Nova Guiné. Caso o contrário, é possível que essas incríveis criaturas desapareçam da Terra em um futuro breve.