Ciência
24/11/2023 às 08:00•2 min de leitura
Cientistas recentemente descobriram que uma espécie de morcego com pênis "desproporcionalmente grande", de forma que não chega a caber na vagina das fêmeas, é o único mamífero conhecido por fazer sexo sem penetração. Em geral, mamíferos tendem a acasalar por meio do sexo com penetração, mas esse não é o caso do morcego-hortelão-escuro (Eptesicus serotinus).
Para driblar esse empecilho, essas criaturas desenvolveram uma estratégia diferente. Em vez de inserir o pênis na vagina das fêmeas, os machos usam sua genitália enorme para afastar a "bainha" da cauda de sua parceira e pressionar seu corpo contra a vulva por até 12 horas.
(Fonte: GettyImages)
Em comunicado compartilhado, o autor principal do estudo, Nicolas Fasel, da Universidade de Lausanne, falou mais sobre sua descoberta. "Observamos que esses morcegos têm pênis desproporcionalmente longos e sempre nos perguntamos 'como isso funciona?'", comentou. A realidade é que o tamanho absurdo do órgão justamente faz com que o sexo por penetração não funcione.
Seus pênis são sete vezes mais longos e mais largos do que as aberturas vaginais das fêmeas quando eretos. Isso impossibilita completamente qualquer tentativa de acasalamento pelo mesmo método que outros mamíferos realizam. “Pensamos que talvez fosse como no cachorro, onde o pênis se enche após a penetração, de modo que eles ficam presos juntos”, disse Fasel.
Contudo, Fasel e seus colegas analisaram imagens de câmeras que colocaram em uma grade onde os morcegos podiam escalar e onde a genitália dos animais era visível durante a cópula. Ao todo, eles registraram um total de 97 eventos de acasalamento no sótão de uma igreja holandesa e em um centro de reabilitação de morcegos na Ucrânia. Nenhuma das sessões de sexo parecia envolver penetração.
(Fonte: GettyImages)
Em vez do tradicional sexo por penetração, as imagens coletadas pelos pesquisadores mostram os morcegos machos agarrando as fêmeas pela nunca e movendo a pélvis até que o pênis ereto fosse pressionado firmemente contra a vulva de sua parceira. Os machos permaneceram completamente imóveis nesse "abraço do acasalamento" por uma média de 53 minutos, com a interação mais longa durante quase 13 horas.
Os pesquisadores também notaram que os pênis aumentavam antes de entrar em contato com a vulva, excluindo a possibilidade de penetração até mesmo antes da ereção — como ocorre com os cães. A equipe também mediu e descreveu os pênis eretos dos morcegos-hortelões-escuros vivos. Esses animais desenvolveram ereções sob anestesia, o que permitiu aos investigadores documentar um inchaço "em forma de coração" na ponta do órgão genital.
Na visão dos cientistas, é possível que esses morcegos tenham desenvolvido pênis desse tamanho para poder afastar uma membrana que cobre os órgãos genitais das fêmeas. O pelo do abdômen das fêmeas também parecia molhado após o acasalamento, indicando a presença de sêmen. No entanto, novas amostras serão necessárias para confirmar que os machos ejaculam durante o longo abraço.
Essa é a primeira evidência documentada de sexo sem penetração em mamíferos, o que foi apelidado de "acasalamento por contato". Esse comportamento já havia sido descrito antes em pássaros, mas costuma envolver machos e fêmeas pressionando as cloacas para realizar uma espécie de "beijo anal".