Ciência
28/11/2023 às 03:00•2 min de leitura
Estrelas do filme Blue Whales 3D, feito por pesquisadores e cineastas nas Ilhas Seicheles em 2020 e 2021, as baleias-azuis, os maiores animais da Terra, estão voltando ao seu antigo habitat no oceano Índico, onde foram quase exterminadas pela caça indiscriminada até o final da década de 1960.
Sons de seu tradicional chamado amoroso foram captados em gravações de áudio subaquáticas realizadas recentemente, provando que os gigantescos animais, que chegam a medir 30 metros de comprimento, costumam passar meses na região. De acordo com cientistas da Universidade de Seicheles, os cetáceos podem estar se reproduzindo ali.
De acordo com o estudo, publicado na revista Journal of Endangered Species Research, desde que baleeiros soviéticos mataram ilegalmente 500 baleias-azuis perto das Seicheles na década de 1960, "nenhuma pesquisa dedicada ocorreu para compreender a importância ecológica desta região" para esses animais.
(Fonte: Ocean Films)
Para rastrear a atividade das baleias-azuis, uma "armadilha sonora" — equipada com microfones subaquáticos, baterias e gravadores — foi colocada perto das ilhas durante um ano, gravando 15 minutos a cada hora, diariamente.
“Se você para de matar animais em grande escala e lhes dá uma chance, eles podem se recuperar”, explicou a primeira autora do artigo, Kathleen Stafford, da Universidade Estadual do Oregon, nos EUA, à BBC News. Ela também passou algumas horas por dia, durante um mês, acompanhando o som de um microfone sob a água.
Embora não tenham conseguido ouvir um único som das baleias-azuis, os cientistas se surpreenderam ao recuperar e ouvir as gravações da armadilha sonora. Elas estavam lá todo o tempo, mas permaneciam em silêncio quando os humanos estavam presentes. O som desses mamíferos tem uma frequência imperceptível para ouvidos humanos, mas pode viajar até milhares de quilômetros sob a água.
Para que as baleias-azuis possam retornar com segurança às Seicheles, uma área em torno das 115 ilhas que compõem o país foi formalmente protegida, em troca do perdão de sua dívida nacional no valor de quase 16,8 milhões de libras(cerca de R$ 104 milhões). Isso representa quase 400 mil quilômetros quadrados de mares.
Os cientistas tentam compreender agora a real importância das Seicheles no ecossistema das baleias-azuis. Mas não apenas para elas. Segundo o principal autor do estudo, Jeremy Kiszka, da Universidade Internacional da Florida, nos EUA, a diversidade e abundância de mamíferos ali são “excepcionais”. “Registramos 23 espécies durante nossas pesquisas”, disse ele à BBC News.
A grande preocupação é garantir que as atividades humanas não voltem a afetar a vida das espécies presentes. Como um dos grandes incômodos para a comunicação entre as baleias é a poluição sonora, também poderosa sob as águas, a redução do tráfego de navios que já ocorre nas Seicheles talvez seja a melhor garantia de segurança e tranquilidade para as baleias-azuis, conclui Stafford.