Artes/cultura
03/12/2023 às 12:00•2 min de leitura
O crescimento estratosférico nos preços do açúcar tem prejudicado comerciantes no mundo todo — sobretudo em países mais pobres. Para padeiros que lutam para se manter enquanto enfrentam custos mais altos de combustível e farinha, por exemplo, o valor crescente do açúcar tem se mostrado um verdadeiro divisor de águas e tem até mesmo fechado alguns negócios.
Estima-se que os preços tenham crescido cerca de 55% nos últimos dois meses, o que significa que esses comerciantes estão podendo produzir menos e ter menos lucro. O açúcar tem sido negociado mundialmente em preços altos desde 2011, por conta da diminuição das ofertas globais causada pelas condições climáticas excepcionalmente secas que prejudicaram colheitas na Índia e na Tailândia, dois dos maiores exportadores do planeta.
(Fonte: GettyImages)
Devido à alta do açúcar, países em desenvolvimento que já lidam com escassez de alimentos básicos sofreram mais um golpe. Esse fenômeno contribuiu para a insegurança alimentar em diversas partes do mundo e tem alguns grandes culpados: o El Niño, a guerra na Ucrânia e moedas enfraquecidas. Enquanto nações mais ricas podem absorver os custos mais altos, países pobres são os que enfrentam as maiores dificuldades.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), estima-se uma queda de 2% na produção global de açúcar para o próximo ano. Isso quer dizer que 3,5 milhões de toneladas devem ser "perdidas" em relação ao ano anterior. Como o açúcar cada vez mais tem sido usado em biocombustíveis, como o etanol, as reservas atingiram os níveis mais baixos desde 2009.
O El Niño, fenômeno natural que altera os padrões climáticos globais e pode causar condições climáticas extremas — de secas a enchentes —, tem causado um estrago devastador. A Índia, por exemplo, enfrentou o agosto mais seco em mais de um século e viu suas colheitas serem completamente prejudicadas. Logo, o cenário atual não é nada animador.
(Fonte: GettyImages)
Olhando para o que deve acontecer nos próximos anos, a colheita do Brasil — maior produtor mundial de açúcar — deve ser 20% maior do que a do ano passado. No entanto, como o país está no Hemisfério Sul, o impulso para o fornecimento global só será sentido em março de 2024. Além disso, o crescimento populacional e o aumento do consumo de açúcar ampliarão ainda mais a pressão sobre as reservas do produto.
De acordo com fontes internacionais, o mundo agora tem menos de 68 dias de açúcar em estoques para atender às suas necessidades. Esse número era de 106 dias em 2020, quando os estoques começaram a diminuir. Para alguns países, importar açúcar mais caro consome reservas de moeda estrangeira, o que pode engatilhar crises financeiras ainda maiores.
Por fim, como o pão muitas vezes é a única comida que famílias pobres podem pagar, e por ser altamente dependente do açúcar, a tendência é que mais pessoas passem fome em um futuro próximo. Não repassar os custos do açúcar mais alto para os comerciantes talvez seja uma medida que alguns governos tenham que adotar para segurar o Mapa da Fome, mas isso não resolve o sinal de alerta que já está ativado.