Ciência
05/12/2023 às 10:00•2 min de leitura
A medicina regenerativa pode ter adicionado uma nova ferramenta ao seu arsenal. A partir de células humanas vivas, cientistas desenvolveram pequenos robôs biológicos chamados "antrobôs". Embora sejam minúsculos, esses robôs possuem um grande potencial para curar e tratar doenças.
Todo o trabalho começou ainda em 2020, com a criação dos xenobots — uma robótica biológica a partir de células embrionários de sapos. Agora, no entanto, a tecnologia conseguiu ser repassada para ser criada a partir de células de outros organismos, principalmente a de seres humanos.
(Fonte: Gizem Gumuskaya/Divulgação)
Quando os xenobots foram desenvolvidos pela primeira vez, os pesquisadores não tinham certeza se a capacidade regenerativa desses robôs se dava por conta de suas origens anfíbias. Então, eles queriam descobrir se os chamados "biobots" também poderiam ser criados a partir de células de outros organismos. Os humanos, obviamente, foram os escolhidos para começar com os estudos.
O ponto de partida para os mais novos antrobôs é uma única célula humana adulta retirada da traqueia. Esses tipos de células são cobertos por minúsculas estruturas semelhantes a cílios, que ajudam a manter pequenas partículas fora de nossos pulmões. Ao manipular as condições de crescimento em laboratório, a equipe conseguiu encorajar as células a se replicarem em organoides multicelulares com os cílios voltados para fora.
Com a camada de cílios em forma de remo se batendo, as células tornaram-se capazes de se mover. Algumas variantes de antrobôs foram surgindo aos poucos, com formas ligeiramente diferentes e variando em tamanho entre 30 e 500 micrômetros. Dependendo da disposição dos cílios, eles se moviam de maneira diferente, podendo sobreviver no laboratório por até 60 dias antes de se degradarem naturalmente.
A capacidade que os antrobôs têm de mudar de forma é uma de suas várias vantagens. “Ao contrário dos Xenobots, eles não necessitam de pinças ou bisturis para lhes dar forma, e podemos usar células adultas – mesmo células de pacientes idosos – em vez de células embrionárias”, explicou o criador da tecnologia, Gizem Gumuskaya, em comunicado oficial.
Segundo Gumuskaya, esses robôs devem ser usados como uma ferramenta terapêutica no futuro. Uma dessas potenciais aplicações é na cura de feridas. A equipe de estudos observou que quando um grupo de antrobôs foi adicionado aos neurônios cultivados em laboratório, os quais haviam sido danificados ao arranhar a camada de células, esses minúsculos robozinhos estimularam o crescimento de novas células para preencher uma lacuna.
Isso abre brecha para uma série de aplicações potenciais em doenças neurológicas, danos nos tecidos e administração de medicamentos. O fato de células crescerem naturalmente em uma variedade de estruturas mostra que, teoricamente, essa tecnologia pode ser colhida das células do próprio paciente — minimizando qualquer chance de reações imunológicas adversas.
Conforme descrito pelos pesquisadores, é fascinante e inesperado que células traqueais de pacientes, sem ter seu DNA modificado, possam se mover por conta própria e estimular o crescimento de neurônios de uma região danificada. Agora, no entanto, os pesquisadores devem continuar avaliando esse mecanismo de cura para definir os próximos estágios científicos.