Ciência
07/12/2023 às 13:00•2 min de leitura
Em 1862, Charles Darwin recebeu em casa uma orquídea-cometa enviada pelos correios por um conhecido que morava em Madagascar, habitat natural da espécie. Além da beleza impressionante, a flor tinha um receptáculo muito longo, com cerca de 30 cm. Esse canal de néctar era novo para o pesquisador, que logo se pôs a pensar que tipo de inseto seria responsável pela polinização daquela planta.
O tema intrigou tanto o cientista a ponto de ele responder o amigo por carta dizendo: “Meu Deus, que inseto é capaz de sugar o néctar dessa flor?”. Depois, em outra carta, veio a previsão certeira: “Que língua deve ter a mariposa que o suga”. A história provaria que ele estava certo – e nem demorou tanto tempo!
Mais ou menos na mesma época, em 1865, o naturalista britânico Alfred Russel Wallace se debruçou a estudar as orquídeas de Madagascar e recordou que algumas mariposas da família Sphingidae, principalmente a mariposa-falcão e a mariposa-esfinge, poderiam ter línguas tão grandes quanto o nectário da orquídea-cometa. Faltava, porém, a confirmação dessa relação.
Claro que muitos entomologistas da época não acreditavam nas teorias de Darwin e Wallace. Darwin, inclusive, morreu sem triunfar sobre esse assunto, já que sua sugestão só foi provada 21 anos depois de seu falecimento. Mesmo assim, a história faz jus a seu nome.
Comparação do tamanho da mariposa com uma mão humana. (Foto: Wikimedia Commons)
Em 1903, o vento soprou a favor dos dois cientistas: uma nova espécie de mariposa da família Sphingidae foi descoberta em Madagascar. Chamada de mariposa-esfinge-de-morgan (Xanthopan morganii), a nova espécie já nasceu famosa. Na época, Wallace já estava com 80 anos.
Porém, foi apenas na década de 1990 que cientistas conseguiram ver e fotografar a mariposa em ação, ou seja, polinizando a orquídea-cometa. Isso comprovou, definitivamente, a teoria de Darwin feita quase 130 anos antes!
Mais recentemente, foi provado que a língua da espécie é a maior entre todos os insetos conhecidos. Depois, em 2021, um estudo taxonômico mais aprofundado foi capaz de mostrar que, na realidade, a espécie de Madagascar era completamente nova, tendo sido rebatizada de mariposa-esfinge-de-wallace (Xanthopan praedicta – esse “praedicta” aí, inclusive, é por ela ter sido “prevista” anos antes).
Já a orquídea-cometa também é conhecida como orquídea de Darwin!
A orquídea de Darwin tem um canal de polén que chega a 30 centímetros. (Foto: Wikimedia Commons)