Durante o inverno, formigas realizam sacrifício por sua colônia

15/12/2023 às 09:002 min de leitura

A preparação para o inverno costuma exigir muito esforço dos animais. Uma vez que os alimentos tendem a ser escassos nessa época do ano, muitas espécies precisam se preparar com antecedência para conseguirem sobreviver. Mas enquanto muitas criaturas constroem alguma versão de uma despensa de alimentos, as formigas-pote-de-mel têm uma estratégia mais bizarra: armazenar sua comida em recipientes vivos e que respiram.

Quando as temperaturas frias levam à escassez acima do solo, um seleto grupo de formigas, com abdômen inchado devido ao consumo exagerado de néctar, mantém toda a colônia alimentada por meio de sua morte. Entenda!

Explosão de néctar

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Em uma colônia de formigas-pote-de-mel, cerca de 1 mil indivíduos entre 5 mil são recrutados para realizar uma profissão sacrificial. Durante um período do ano, essas criaturas precisam acumular o máximo de néctar possível em seu abdômen até o inverno, ficando posteriormente penduradas em câmaras especialmente construídas dentro de suas comunidades.

Esse néctar é coletado de plantas com flores e da "melada" secretada por pulgões. Mas esse não é o único fluido contido no trato digestivo dessa formiga. "Alguns deles, acreditamos, armazenam água, e alguns podem armazenar insetos mortos trazidos para o ninho", explica o professor de biologia da Universidade de Scranton, John Conway, que estudou colônias de formigas endêmicas em regiões desérticas no sudoeste dos Estados Unidos e do México.

Segundo os pesquisadores, as formigas portadoras de néctar não nascem assim. Elas primeiro surgem como formigas operárias comuns e, posteriormente, recebem essa outra "patente". Quando a necessidade surge no inverno, essas formigas "explodirão", fornecendo o alimento necessário para o restante da colônia e morrendo junto do processo.

Alimento humano

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Outro fato curioso sobre as formigas-pote-de-mel é que elas não alimentam apenas suas colônias em tempos de escassez: comunidades indígenas na América do Norte e também na Austrália Ocidental são conhecidas por colher esses insetos inchados há muito tempo. 

Observações feitas por pesquisadores norte-americanos no final do século XIX e início do século XX sugerem que essas formigas eram apreciadas de forma semelhante pelas comunidades em partes distintas do planeta. Na Cidade do México, inclusive, esses insetos também eram vistos sendo fermentados em uma bebida alcoólica. Além disso, o "xarope" produzido por esses animais também era tradicionalmente usado para aliviar dores de garganta ou controlar infecções em cortes.

Posteriormente, outros estudos demonstraram que o néctar das formigas-pote-de-mel pode ser capaz de combater algumas infecções bacterianas e fúngicas com suas propriedades antimicrobianas e químicas únicas. Contudo, esses animais têm desaparecido do mundo aos poucos. Pesquisas feitas no Jardim dos Deuses, nos EUA, em 2018, mostram que 58% dos formigueiros existentes no parque desapareceram de 1975 até agora.

A teoria mais provável é que as alterações climáticas estão afetando a forma como esses bichos conseguem sobreviver e o aumento do turismo na região também tende a desempenhar um papel importante. De todo modo, oito ninhos estudados há 43 anos seguem intactos até hoje, o que também mostra um grau de resiliência impressionante entre a espécie.

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