Estilo de vida
30/12/2023 às 02:00•2 min de leitura
Entre as boas notícias de 2023 está o “renascimento” de uma planta rara que se julgava extinta há 30 anos no Japão: a lanterna-de-fada, do gênero Thismia, que, como diz o nome, parece iluminar o chão da floresta. Embora seja uma planta bioluminescente, ela não faz fotossíntese, tirando sua energia de outros organismos em locais subterrâneos, onde vive.
Descoberta pela primeira vez na cidade de Kobe, na província de Hyogo, no Japão em 1992, a lanterna-de-fada foi propriamente chamada de Thismia kobensis, até ser extinta por ter seu habitat destruído pela construção de um complexo industrial.
Embora reencontrada por biólogos da Universidade de Kobe, o exemplar foi agora encontrado na cidade de Sanda, na mesma província, cerca de 30 quilômetros ao norte.
(Fonte: Kenji Suetsugu et al.)
Exemplares da família Thismiaceae, as lanternas-de-fadas são plantas atípicas, pois não possuem folhas e não realizam a fotossíntese. Elas são pouco conhecidas pela ciência, pois passam a maior parte de suas vidas no subsolo, emergindo ocasionalmente suas flores coloridas e iluminadas como pequenos cogumelos brilhantes.
Além de serem difíceis de detectar, elas são muito seletivas quanto aos locais nos quais floresce. São geralmente ambientes bem específicos, como solos de baixa qualidade, capazes de abrigar os fungos de que se alimentam. Isso torna o seu habitat e alcance geográfico bastante limitados.
Por isso, encontrar uma T. kobensis após três décadas de busca, principalmente tão distante do seu habitat inicial, causou grande surpresa aos pesquisadores do Departamento de Biologia da Universidade de Kobe. Eles aproveitaram o evento para atualizar "a taxonomia, biogeografia, história evolutiva e conservação" da planta que, segundo o estudo, só havia sido descrita a partir de um exemplar incompleto de museu.
(Fonte: Kenji Suetsugu et al.)
Considerada a lanterna-de-fada mais setentrional descoberta até hoje, a nova T. kobensis se diferencia de outras espécies pelo seu anel curto e largo. Existem no mundo mais de 90 espécies dessa planta, inclusive no Brasil, onde um exemplar da T. panamensis foi descoberto em 2015 no Parque Natural Municipal da Mata do Açude, em Jataí (GO), por pesquisadores da Universidade Federal de Jataí.
As lanterna-de-fadas são dissimuladas quando o assunto é troca de nutrientes. Sorrateiras, elas evoluíram a partir de plantas que cultivavam uma relação simbiótica com os chamados fungos micorrízicos, benéfica para ambos. Só que as Thismiaceae passaram a não cumprir sua parte no acordo, e se tornaram parasitas, não oferecendo nada em troca.
Em biologia, essa abordagem peculiar para obter a energia que não tira do sol é chamada de mico-heterotrofia. Nesse caso, o mico-heterótrofo é a planta parasita da relação, e essa interação dissimulada faz com que as lanternas-de-fada sejam muitas vezes chamadas de "trapaceiras de micorrízicos".