Estilo de vida
05/01/2024 às 06:30•2 min de leitura
Já pensando nas futuras missões a outros planetas, uma preocupação para as agências espaciais tem sido a alimentação. Quem conhece a rotina das missões espaciais atuais sabe que muitos dos alimentos que os astronautas consomem são liofilizados, ou seja, comida desidratada em pó. Agora, uma nova solução foi acrescentada à produção de alimentos: moscas soldado-negro.
Calma, não estamos falando em algum tipo de "entomofagia", como a praticada em vários países da Ásia e da África. O interesse dos cientistas não é nas moscas em si, mas sim nas suas fezes. A ideia é que esse material orgânico seja usado como fertilizante em futuras expedições ao planeta Marte.
Missões de longa duração no planeta vermelho exigirão uma longa permanência em um mundo inóspito e constituído basicamente por rochas granulares e sedimentos de rocha. Nesse cenário, a única alternativa de sobrevivência viável é que os astronautas cultivem os seus próprios alimentos e gerenciem seus resíduos.
(Fonte: Getty Images)
Para aprender a gerenciar o frass, nome dado ao resíduo fecal produzido pelas moscas, os cientistas alimentaram moscas soldado-negro (Hermetia illucens). Segundo a pesquisadora Hellen Elissen, da Universidade e Pesquisa de Wageningen na Holanda, "elas são comedoras muito vorazes. E se você as alimentar bem, produzirão muito frass."
Conforme a pesquisa, publicada no ano passado, "o frass da mosca soldado negro, resultante da bioconversão de materiais orgânicos pelas larvas de Hermetia illucens, pode ser usado como fertilizante". Isso acontece porque esse material é rico em nitrogênio, potássio, fósforo, quitina, além de mais bactérias.
O frass reflete exatamente o que as moscas comem, diz Elissen. Ou seja, quando elas comem apenas grama, o fertilizante não fica muito potente. Mas, quando ingerem alimentos mais energéticos, o frass produzido por esses insetos se torna de alta qualidade para o plantio.
(Fonte: Twentieth Century Fox/Reprodução)
O uso de excrementos da mosca soldado-negro mostrou notáveis semelhanças com esterco de vaca, dejetos líquidos de suínos e esterco de aves, porém com maior teor de matéria orgânica do que todos os fertilizantes orgânicos citados. Para o estudante da Universidade A&M do Texas, Emmanuel Mendoza, essas características o animaram a utilizar o frass das moscas como um catalisador no campo da agricultura espacial.
Para testar suas hipóteses, Mendoza cultivou ervilhas em um solo parecido com o regolito marciano, misturado a rochas e minerais granulados. Nesse cenário hostil, o estudante adicionou o frass.
A ideia é criar uma espécie de compostagem marciana, na qual as larvas seriam levadas ao espaço e comeriam os resto de alimentos dos astronautas, produzindo frass para fertilizar e "domesticar" o solo marciano, até que ele pudesse produzir alimentos. Moídas, as próprias larvas dos insetos poderiam ser utilizadas como fontes de nutrientes pelos astronautas, sugere o graduando.