Ciência
12/01/2024 às 02:00•2 min de leitura
As simulações que vemos do sistema solar nos oferecem uma visão muito rica de como são as diferentes dinâmicas do espaço, assim como nos permitem ter uma melhor dimensão da escala dos diferentes planetas e satélites presentes nele.
No entanto, novos estudos e descobertas constantemente nos obrigam a reconsiderar aquilo que já tínhamos como fato — o que já rendeu debate se Plutão seria ou não um planeta, por exemplo. E algo semelhante ocorre agora envolvendo dois outros planetas relativamente próximos dele.
Urano e Netuno costumavam ser representados com tons de verde e azul, respectivamente. E segundo cientistas da Universidade de Oxford, é preciso deixar de lado essa concepção, pois ela não corresponde à realidade.
À esquerda, as duas representações de Urano (a, c); à direta, a visão de Netuno (b, d) antes e após a revisão proposta pela pesquisa. (Fonte: Monthly Notices of the Royal Astronomical Society/Reprodução)
Pode-se dizer que as imagens fornecidas pela Voyager ao longo do século XX contribuíram para essa visão equivocada, já que se trata da única nave espacial encarregada de visitar ambos planetas. Vale lembrar que, nesse trabalho, são captadas imagens em cores separadas. Em seguida, diferentes filtros são aplicados, para obter uma imagem colorida e mais próxima daquilo que veríamos.
Ou seja, as imagens finais surgem apenas após passarem por um processamento. No entanto, Netuno acabou aparentando ser bem mais azul do que realmente seria, segundo os cientistas. As descobertas foram compartilhadas na nova edição da Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Para chegarem a essa conclusão, foram utilizados dados tanto do Space Telescope Imaging Spectrograph (STIS), quanto do Telescópio Espacial Hubble e do Multi Unit Spectroscopic Explorer (MUSE).
Ao combinar as imagens fornecidas, foi possível gerar uma representação mais equilibrada, revelando dois planetas gelados com um tom bastante semelhante, que privilegia o azul esverdeado.
Vale destacar que, a partir dessa pesquisa, os cientistas também puderam constatar que a cor de Urano muda com o tempo. Essa variação, atualmente, seria explicada pela menor concentração de metano nas regiões polares do planeta, combinada ainda com outras dinâmicas relacionadas à incidência de luz solar nas suas diferentes estações.
Imagem mostra os planetas Urano e Netuno em diferentes etapas do processamento de imagem. (Fonte: Monthly Notices of the Royal Astronomical Society/Reprodução)
Embora existisse a impressão que a representação dos planetas não estaria precisa, era difícil para cientistas estipular o quanto. Afinal, é preciso reunir evidências para rebater qualquer visão difundida.
"Apesar de as imagens familiares de Urano da Voyager 2 terem sido publicadas numa forma mais próxima da cor ‘verdadeira’, as de Netuno foram, de fato, esticadas e melhoradas e, portanto, tornadas artificialmente demasiado azuis", explicou Patrick Irwin, que liderou a pesquisa, para a Royal Astronomical Society.
"Mesmo que a cor artificialmente saturada fosse conhecida na época entre os cientistas planetários – e as imagens tenham sido divulgadas com legendas explicando isso – essa distinção foi perdida com o tempo. Aplicando o nosso modelo aos dados originais, conseguimos reconstituir a representação mais precisa da cor de Netuno e Urano", completa Irwin.