Ciência
23/02/2024 às 02:30•2 min de leitura
Após seis semanas procurando por uma espécie de ave "perdida" nas selvas da República Democrática do Congo, pesquisadores da Universidade do Texas em El Paso (UTEP), finalmente conseguiram capturar a primeira foto na história de um picanço-de-crista-amarela (Prionops alberti).
Em comunicado oficial, o autor do estudo e ornitólogo do Departamento de Ciências Biológicas da UTEP, Michael Harvey, comemorou a conquista. “Foi uma experiência alucinante encontrar essas aves. Sabíamos que eles poderiam ser possíveis aqui, mas não estava preparado para o quão espetaculares e únicos eles pareceriam na vida real”, disse. O picanço-de-crista-amarela, antes da expedição, não era visto na natureza há quase 20 anos, levando a temores de que a espécie pudesse ter sido extinta.
(Fonte: Matt Brady/UTEP/Divulgação)
Para encontrar o animal, a equipe de estudos percorreu mais de 120 km pelas profundezas do Maciço Itombwe, uma cordilheira na parte oriental da República Democrática do Congo. Os investigadores, compostos por ornitólogos dos Estados Unidos e pesquisadores congoleses do Centre de Recherche en Sciences Naturelles, depararam-se com os picanços-de-crista-amarela após uma longa jornada.
O grupo de aves foi descrito como "barulhento e muito ativo no meio da floresta". Esses animais não eram vistos há muito tempo devido às guerras em curso e à instabilidade política no país, que dificultava a visita à área. Durante a expedição, a equipe encontrou 18 espécimes em três locais diferentes.
As fotos foram então confirmadas pelo pesquisador Cameron Rutt, que lidera o projeto Search For Lost Birds ("busca por pássaros perdidos", em traducão livre) na American Bird Conservancy. “Isto traz esperança de que talvez a espécie ainda tenha uma população razoavelmente saudável nas florestas remotas da região”, destacou Harvey em comunicado.
(Fonte: Getty Images)
Enquanto buscavam pelos picanços-de-crista-amarela no Congo, a equipe de herpetologia da expedição também conseguiu redescobrir uma espécie de anfíbio chamada de sapo-de-barriga-vermelha (Arthroleptis hematogaster), que foi vista pela última vez na década de 1950.
No entanto, os investigadores estão preocupados com o futuro das espécies de rãs e aves recém redescobertas devido às ameaças de perda de habitat por conta do crescimento da agricultura e mineração na região. A Lista Vermelha da IUCN sugere que essas espécies perderão mais de 90% da sua distribuição devido às alterações climáticas até 2080.
“A mineração e a exploração madeireira, bem como o desmatamento de florestas para a agricultura, estão fazendo incursões profundas nas florestas da cordilheira de Itombwe. Estamos em discussões com outros pesquisadores e organizações conservacionistas para promover esforços para proteger as florestas da região e o picanço”, continuou Harvey.
De acordo com os pesquisadores, esse é uma oportunidade de ouro para proteger as florestas tropicas de modo que espécies fantásticas como o picanço-de-crista-amarela possam ser conhecidas e estudadas com mais profundidade.