Artes/cultura
26/02/2024 às 06:30•2 min de leitura
Durante o abafado e chuvoso verão indiano no ano passado, Lohit YT, um especialista em rios e zonas úmidas do World Wildlife Fund - Índia, saiu com um grupo de amigos herpetólogos para estudar anfíbios no sopé da cordilheira Ghats Ocidentais. O passeio de rotina se transformou, no entanto, em uma curiosa descoberta científica.
Entre dezenas de rãs intermediárias de dorso dourado de Rao (parecidas com as Hylaranas intermedias existentes no Brasil), a equipe se surpreendeu com uma delas, que estava empoleirada em um galho, com um pequeno cogumelo brotando do corpo. Curiosos por ver uma estrutura reprodutiva de fungo "saindo" de um anuro, eles se aproximaram e fotografaram a rã.
Compartilhando as imagens nas redes sociais, os pesquisadores começaram a receber comentários de micologistas (especialistas em fungos), afirmando que o cogumelo mostrado poderia ser do gênero Mycena, que geralmente se alimenta de matéria orgânica em decompoisção. Com esse feedback, Lohit e seu coautor Chinmay C Maliye documentaram recentemente a descoberta na revista Reptiles and Amphibians.
(Fonte: Lohit YT/WWF-Índia/Reprodução)
A produção de cogumelos por fungos não é automática. Para que um esporo de fungo produza um cogumelo, ele tem antes que se instalar e produzir micélios. Essas estruturas finas e ramificadas são responsáveis por absorver nutrientes. Parecido com uma pequena raiz, quando o micélio encontra nutrientes, ele produz um cogumelo.
O biólogo de fungos da Universidade da Flórida, Matthew Smith, que não esteve presente na descoberta, disse ao The New York Times que, se existentes, esses micélios teriam que estar na superfície da pele ou dentro do corpo do anfíbio.
Mas assegurou à publicação jamais ter visto um cogumelo nascendo em tecido animal vivo.
(Fonte: Lohit YT/WWF - Índia/Reprodução)
Como o grupo de herpetólogos optou por não coletar a rã, não foi possível efetuar qualquer tipo de exame que pudesse comprovar se o fungo cresceu de dentro do corpo dela ou na superfície de sua pele. Entre os comentaristas das postagens, alguns micologistas sugeriram que o fungo pode ter se hospedado em alguma infecção ou ferida aberta no corpo do anuro.
Como não foram encontrados ferimentos visíveis e, segundo o estudo, o fungo não parece estar prejudicando o anfíbio, o pesquisador Christoffer Bugge Harder, da Universidade de Copenhaguen na Dinamarca, afirmou à Forbes que a erupção pode ser "uma infecção de pele puramente superficial com Mycena", como uma infecção fúngica em pele humana.
Assim como Harder, que não participou do estudo, a herpetóloga do Museu de Zoologia Comparada de Harvard, Sonali Garg, lembrou em entrevista ao The New York Times que, embora nunca tenha visto nada parecido, o ambiente quente e úmido da região é propício ao surgimento de cogumelos. "Combine isso com a pele úmida de um sapo e poderá ser a tempestade perfeita para o crescimento de cogumelos", concluiu.