41 mil ossos de bisão: mistérios de um massacre pré-histórico

12/06/2024 às 09:002 min de leituraAtualizado em 12/06/2024 às 09:00

O ano era 1972 quando o fazendeiro Robert B. Jones Jr. encontrou pontas de lança e inúmeros ossos enquanto preparava um campo para irrigação. A descoberta chamou a atenção dos arqueólogos, que realizaram uma das maiores escavações da década de 1970, revelando 41 mil ossos de bisões, agora guardados no Museu de Natureza e Ciência de Denver (DMNS, na sigla em inglês).

A descoberta no sítio Jones-Miller, localizado nas planícies do leste do Colorado, revelou uma história fascinante sobre os caçadores paleoíndios que viveram há cerca de 10,8 mil anos, no final da última era glacial. 

Com a ajuda de técnicas meticulosas e muita paciência, a equipe de pesquisadores conseguiu desenterrar não só os ossos, mas também ferramentas de pedra e amostras de solo que oferecem uma visão rara da vida pré-histórica nas Grandes Planícies.

Grande trabalho

Mega operação foi criada para dar conta das escavações. (Fonte: Denver Museum of Nature & Science/ Divulgação)
Mega operação foi criada para dar conta das escavações. (Fonte: Denver Museum of Nature & Science / Divulgação)

As escavações foram meticulosas e sistemáticas. Em uma área de 6 mil metros quadrados, dividida em pequenas grades (de 2 por 2 metros), arqueólogos trabalhavam com espátulas e escovas sob o calor intenso do verão. Sem drones, usaram tubos e polias para suspender câmeras e documentar o progresso. O resultado foi um valioso tesouro arqueológico, cuidadosamente catalogado e preservado.

Os ossos de bisão, que dominavam o local, não eram apenas restos de animais comuns. Eles pertenciam ao Bison antiquus, uma espécie 25% maior que os bisões modernos, com chifres imponentes e uma altura que chegava a 2,20 metros (sim, é isso mesmo!). 

A caça a esses gigantes não era tarefa fácil. Os paleoíndios desenvolveram estratégias sofisticadas para conduzir os rebanhos para áreas confinadas, onde podiam ser abatidos mais facilmente. Usavam galhos e arbustos para direcionar os animais e, uma vez encurralados, utilizavam lanças com pontas chamadas Hell Gap, uma tecnologia de ponta para a época.

Os arqueólogos descobriram que os bisões eram abatidos em massa na primavera e no outono. Isso foi determinado pelo estudo dos dentes dos bezerros, que, como nos humanos, revelam a idade e a estação em que foram mortos. Essas análises oferecem uma visão única dos padrões de caça e da sazonalidade das atividades dos antigos caçadores.

Por que tantas mortes?

Ossos presentes no departamento de antropologia do Denver Museum. (Fonte: Denver Museum of Nature & Science, X/ Divulgação)
Ossos presentes no departamento de antropologia do Denver Museum. (Fonte: Denver Museum of Nature & Science, X / Divulgação)

A resposta pode estar na abundância de recursos. Os caçadores tinham mais carne do que podiam consumir e, possivelmente, deixaram parte dela para lobos e coiotes, como indicam as marcas de dentes nos ossos. Isso sugere uma relação complexa e interdependente entre humanos e animais, uma dança de sobrevivência e coexistência no fim da era glacial.

Além disso, a distribuição espacial dos restos de bisão no sítio revela como diferentes partes dos animais eram dispostas em pilhas separadas (como pernas, costelas, etc.), o que sugere práticas distintas de processamento e utilização das carcaças pelos caçadores.

Outra possibilidade para a existência de tantos ossos no mesmo local seria a de uma possível acumulação ao longo do tempo, devido a caças frequentes ou como um local de descarte — uma espécie de "matadouro" —, usado repetidamente por grupos humanos ao longo de muitos anos. A presença de ferramentas de pedra e outros artefatos na mesma área também indica atividade humana corriqueira ali. 

Após décadas de estudo, os ossos e artefatos do sítio Jones-Miller foram transferidos para o DMNS em 2018, onde continuam a ser uma fonte valiosa de pesquisa. Com o apoio de uma bolsa Save America's Treasures ("Salve os Tesouros da América", em tradução livre), a equipe do museu está catalogando e realocando essa impressionante coleção.

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