Ciência
23/05/2014 às 09:33•5 min de leitura
Se não levarmos em conta as possibilidades vindas das religiões e considerarmos que a teoria do Big Bang – o postulado científico, não o seriado de TV – está correta, então é perfeitamente possível afirmar que a existência do Universo e de toda a vida nele contida é tudo fruto de um grande acaso. Da mesma forma, a evolução e a seleção natural também seriam oriundas de felizes acidentes ocorridos com o passar dos milênios.
Forçando um pouco a barra, poderíamos até mesmo dizer que a existência de cada um de nós só é possível por causa das coincidências que levaram nossos pais a se conhecerem e se apaixonar um pelo outro. Com isso em mente, é perfeitamente natural acreditar que muitas dos achados científicos feitos até hoje também estão sujeitos a essa regra.
Você duvida? Então confira a seguir uma lista com oito descobertas que foram comprovadamente originadas por acidente, indo da criação da cerveja e dos picolés até o desenvolvimento do Viagra e do primeiro antibiótico.
O conceito de um picolé – uma guloseima açucarada congelada em um palito – parece tão simples que até mesmo uma criança poderia tê-lo inventado. Curiosamente, foi exatamente isso que aconteceu. No inverno norte-americano de 1905, um garoto de 11 anos de idade chamado Frank Epperson esqueceu na sua varanda um copo de suco de fruta em pó com um palito de mexer, que ficou a noite toda exposto ao frio.
O garoto encontrou o que é considerado o primeiro picolé do mundo na manhã seguinte, mas só começou a vender sua invenção 18 anos depois, durante um baile do Corpo de Bombeiros de São Francisco. O público adorou a novidade e Epperson largou seu emprego para vender seus Epsicles. O nome em inglês só virou o que é conhecido hoje (“popsicles”) por influência dos filhos do vendedor, que os chamavam de “pop’s ‘cicles” (algo como “gelados do papai”).
Certo dia, o engenheiro suíço George de Mestral resolveu dar um passeio com seu cachorro pelas colinas aos pés dos Alpes. Ao voltar para casa, ele percebeu que o pelo do animal estava coberto de carrapichos e, movido pela curiosidade, os examinou sob um microscópio para entender como a natureza tinha conseguido fazê-los grudar.
Ele então descobriu que os “culpados” eram pequenos ganchos presentes nos carrapichos, que se prendiam nas voltinhas dos pelos do cachorro. O engenheiro então passou os oito anos seguintes pesquisando e desenvolvendo um prendedor de roupas baseado na sua descoberta acidental, criando protótipos de algodão e de nylon e dando à sua invenção o nome de Velcro, originário da combinação entre as palavras veludo e crochê.
A novidade estreou em um evento de moda realizado em Nova York no ano de 1959, mas não foi imediatamente adotado pela indústria de roupas. O Velcro só passou a fazer sucesso após chamar a atenção dos engenheiros da NASA, que perceberam que a tecnologia seria útil para prender ferramentas em gravidade zero.
Em 1947, dois pastores estavam guiando seus rebanhos pelas colinas queimadas de Qumran, que ficam próximas do Mar Morto, quando um deles acabou tendo que se afastar para ir atrás de um dos animais, que havia vagado na direção errada. Ele então descobriu – na verdade, quase caiu dentro – uma caverna profunda e jogou uma pedra no meio da escuridão, ouvindo um pote se quebrar no fundo.
Ele então buscou seu amigo e ambos desceram cuidadosamente, retirando de lá uma série de vasos de argila selados que abrigavam rolos de papiro no seu interior. Sem saber o valor do que encontraram, os homens venderam os pergaminhos escurecidos a preço de banana para negociantes de antiguidades em Jerusalém.
Eventualmente, um historiador especializado em estudos bíblicos reconheceu o texto nos rolos e percebeu que eles se tratavam de uma das primeiras cópias dos livros da Bíblia hebraica. Quando arqueólogos e exploradores retornaram à região de Qumran, foram descobertas mais dez cavernas cheias de pergaminhos e fragmentos, contendo textos em hebreu, aramaico e grego que haviam sido escondidos lá mais de 2 mil anos antes por separatistas judeus.
Ninguém sabe exatamente quem inventou a cerveja, mas tudo nos leva a crer que o processo que a originou – a fermentação – foi um mais um feliz acaso. Os seres humanos começaram a plantar grãos cerca de 10 mil anos atrás e os utilizaram para fazer pães, que a princípio eram planos e duros.
No entanto, quando esses grãos se molhavam, acabavam se transformando em comida para leveduras presentes no ar, processo que gera o álcool como um subproduto. Em algum momento, os antigos padeiros perceberam que o uso dos grãos fermentados fazia os pães crescerem e ficarem mais macios, o que fez com que passassem a realizar o processo propositalmente.
Como se não bastasse o acaso acima, eventualmente um deles deve ter resolvido beber um pouco do líquido que surgia e descobriu seus efeitos inebriantes, desenvolvendo o que acabaria se tornando a cerveja.
Com volumes de vendas que ultrapassaram o valor de US$ 2 bilhões somente no ano de 2012, o Viagra é um dos medicamentos que mais rendeu lucros para sua criadora, a Pfizer. Curiosamente, no entanto, a empresa nunca se preocupou propositalmente em perseguir ativamente uma cura para a disfunção erétil.
Os pesquisadores da empresa originalmente estavam testando lotes de um remédio chamado UK-92480, voltado para dores no peito causadas por baixa oxigenação, quando as cobaias humanas do sexo masculino avisaram que estavam sofrendo de uma... rigidez inesperada. Estudos posteriores revelaram que o medicamento suprimia a produção de uma enzima que combatia ereções, dando origem à famosa pílula azul.
Em 1895 – época em que ninguém sabia sobre elétrons e radiação –, o médico alemão Wilhelm Conrad Roentgen estava pesquisando o comportamento dos raios catódicos. Ele fazia isso pela observação dos feixes que escapavam quando ele fazia uma corrente de alta voltagem passar por tubos de vácuo. Ao cobrir o tudo com papelão preto, ele descobriu que alguns raios invisíveis iluminavam uma tela especial localizada a quase três metros de distância.
Roentgen nomeou os feixes misteriosos de raio-X e, pouco tempo depois, descobriu que eles podiam ser capturados por placas fotográficas. Além disso, ele notou que os raios passavam facilmente pela pele e músculos humanos, mas eram bloqueados por metais e ossos. Em um arroubo de generosidade, o pesquisador se recusou a patentear a descoberta e acabou revolucionando a medicina da época, o que rendeu a ele o primeiro Nobel de física da história.
Por séculos um dos principais inimigos de tudo que era feito de ferro e aço foi a ferrugem, que afetava desde talheres até grandes navios sem piedade. O britânico Harry Brearley deveria ter sido considerado um herói quando acidentalmente inventou o aço inoxidável em 1913, mas a ignorância de seus empregadores fez com que sua descoberta fosse tratada como uma perda de tempo.
Na época, Brearley trabalhava para a empresa Thomas Firth & Sons e estava encarregado de desenvolver uma liga de aço que pudesse resistir à fricção dentro dos canos dos rifles, que fazia com que seu interior ficasse grande demais para as balas. Durante seus experimentos, o funcionário percebeu que uma das misturas descartadas continuava perfeitamente lisa e brilhante, enquanto as outras já estavam enferrujadas.
Ele então buscou suas anotações, encontrou a fórmula e confirmou que uma liga com 12% de cromo formava uma camada protetora no aço, impedindo sua oxidação. Brearley então implorou aos seus chefes que criassem utensílios feitos do material, mas eles afirmaram que a ideia não seria lucrativa. Uma empresa alemã acabou criando uma patente antes do inglês, mas ele eventualmente foi reconhecido como seu verdadeiro criador.
Antes da criação dos antibióticos, milhões de pessoas morriam todos os anos devido a ferimentos infectados ou por doenças contagiosas causadas por bactérias, como a escarlatina. Durante a Segunda Guerra Mundial, as garrafas de penicilina, o primeiro antibiótico descoberto, salvaram a vida de um número incontável de vítimas dos conflitos – e mesmo hoje em dia nós ainda dependemos muito desse tipo de remédio para curar doenças.
Chega a ser difícil imaginar que tudo isso só foi possível graças a dois enganos cometidos pelo cientista escocês Alexander Fleming em 1928. O primeiro deles foi quando ele acidentalmente deixou cair uma lágrima em uma das culturas de bactérias no seu laboratório, o que não só revelou propriedades ligeiramente bactericidas nas lágrimas humanas, mas também ensinou a ele que mesmo os erros científicos podem revelar coisas importantes.
Já o segundo e mais importante engano ocorreu quando Fleming deixou sem querer que uma de suas culturas fosse infectada por um fungo. Diferentemente do que faria a maior parte dos cientistas da época, ele resolveu inspecionar a placa antes de jogá-la fora e acabou percebendo que havia um círculo limpo ao redor do fungo, indicando que ele era tóxico para as bactérias presentes na amostra. O resultado foi a descoberta da Penicilina e um prêmio Nobel.
E aí, o que achou dessas impressionantes descobertas acidentais? Conhece mais alguma coisa que só se tornou conhecida por acaso? Deixe sua opinião nos comentários.