Artes/cultura
05/06/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 11/07/2024 às 10:58
Como os primeiros seres humanos chegaram na Austrália? A resposta a essa pergunta nos leva a uma fascinante jornada pelo tempo, geografia e resiliência humana. Há pelo menos 65 mil anos, os primeiros aventureiros se lançaram ao desconhecido, cruzando mares e continentes até chegarem à vasta terra australiana.
Esses pioneiros vieram do que hoje conhecemos como África, atravessando a Eurásia e, eventualmente, seguindo para o sudeste asiático antes de fazer a travessia final para a Austrália e Nova Guiné.
Durante décadas, os cientistas debateram como essa incrível jornada foi possível. Dois modelos principais foram propostos: o “Fora de África” e o “Multirregional”. O primeiro sugeria que uma única linhagem de Homo sapiens saiu da África e colonizou o mundo. Já o segundo defendia que múltiplas linhagens de humanos modernos evoluíram simultaneamente em diferentes regiões.
Com o avanço das pesquisas em DNA e a descoberta de novos fósseis, o consenso atual inclina-se para o modelo de “Origem Africana Recente”, mas reconhece a influência do cruzamento com populações arcaicas locais, como os Neandertais e os Denisovanos.
Os primeiros humanos modernos chegaram ao sudeste asiático há cerca de 70 mil anos, coexistindo por um tempo com o Homo erectus, que já habitava a região há mais de 1,5 milhão de anos. Evidências indicam que esses primeiros Homo sapiens cruzaram-se com os Denisovanos, uma espécie que habitava a Ásia e deixou sua marca genética nos povos melanésios e aborígenes australianos atuais.
Durante a maior parte de sua história, a Austrália esteve conectada à Nova Guiné, formando um supercontinente chamado Sahul. A separação definitiva ocorreu há cerca de 8 mil anos, quando o nível do mar subiu.
Para chegar a Sahul, os primeiros humanos precisaram navegar por grandes extensões de água, um feito notável para a época. As evidências genéticas sugerem que os povos indígenas da Austrália e da Nova Guiné têm uma ascendência comum, reforçando a teoria de uma migração única e bem-sucedida.
A rota mais provável para essa migração, segundo estudos recentes, começava em Bornéu, passava por Sulawesi (ilha da Indonésia) e outras ilhas menores até chegar à Papua Ocidental. De lá, os migrantes podiam caminhar através do que hoje é o Cabo York até o resto da Austrália.
Essa rota tinha a vantagem de oferecer visibilidade de costa a costa e exigia menos recursos e energia, tornando a travessia mais viável. Essa teoria é corroborada por evidências arqueológicas em locais como o abrigo rochoso de Madjedbebe, no Território do Norte, onde foram encontrados artefatos datados de 65 mil anos.
A colonização da Austrália é considerada uma das maiores conquistas dos primeiros humanos, marcando a primeira evidência inequívoca de uma travessia marítima significativa. Embora não tenhamos preservações de embarcações antigas, acredita-se que os primeiros australianos usaram jangadas feitas de bambu, um material abundante na Ásia.
Os primeiros sítios de ocupação humana na Austrália datam de aproximadamente 50 mil anos atrás. Locais como Madjedbebe e a Ilha Barrow revelam uma presença humana contínua e adaptável, com artefatos que mostram uma evolução tecnológica significativa ao longo do tempo. Ferramentas de pedra, arte rupestre e pigmentos minerais como o ocre indicam uma cultura rica e complexa desde os primórdios da ocupação humana.
Os restos humanos mais antigos encontrados, como os do Lago Mungo, datam de cerca de 42 mil anos e oferecem um vislumbre das práticas funerárias e da vida dos primeiros australianos.
Essas descobertas arqueológicas não apenas iluminam o caminho da migração humana, mas também celebram a engenhosidade e a perseverança dos nossos ancestrais que, movidos pelo instinto de explorar e sobreviver, conseguiram colonizar um continente tão distante e isolado.