Ciência
01/07/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 01/07/2024 às 09:00
Além de abrigar o ornitorrinco e a equidna, a Austrália já foi lar de muitos outros mamíferos que botam ovos, também conhecidos como monotremados. Um estudo publicado em maio na revista de paleontologia Alcheringa revelou a descoberta de três novas espécies de mamíferos ovíparos que viveram na região há 100 milhões de anos.
Elas foram identificadas a partir de fósseis encontrados em Lightning Ridge, no estado de Nova Gales do Sul, há 25 anos. Os dentes e ossos maxilares se tornaram alvo de uma investigação recente, conduzida por pesquisadores do Museu Australiano e do Instituto de Pesquisa do Museu Australiano.
Os restos mortais, datados do período Cretáceo, entre 102 milhões e 96,6 milhões de anos atrás, pertenciam a seis espécies de monotremados que conviviam no atual território australiano. Mas deste total, três já haviam sido catalogadas em estudos anteriores, enquanto as demais permaneciam desconhecidas até então.
Segundo o professor Kris Helgen, coautor da pesquisa, as três novas espécies de mamíferos que põem ovos descobertas na Austrália apresentam combinações de características nunca observadas em outros monotremados, tanto fósseis quanto vivos. Dessa forma, foi possível dar uma olhada em adaptações evolutivas que estavam para acontecer.
O Opalios splendens é uma delas e ganhou menção especial na pesquisa. O animal apresentava traços comuns aos primeiros mamíferos que botam ovos ao mesmo tempo que contava com alguns aspectos prenunciando adaptações presentes nos seus descendentes vivos.
“Sua anatomia geral é provavelmente bastante parecida com a do ornitorrinco, mas com características da mandíbula e focinho um pouco mais parecidas com uma equidna”, disse Helgen, em comunicado. Por causa dessa mescla, o diretor do Instituto de Pesquisa do Museu Australiano apelidou a criatura de “equidnápio”.
Já o Parvopalus clytiei é apontado como o menor monotremado do Cretáceo, entre as espécies conhecidas até o momento, devido ao seu tamanho equivalente ao de um rato. A terceira novidade é a Dharragarra aurora, classificada pelos autores como a mais antiga espécie de ornitorrinco.
O estudo pode ajudar a esclarecer dúvidas sobre a evolução dos monotremados, como os motivos que os levaram à perda de dentes. Representante mais antigo do grupo, o Teinolophos trusleri, de 130 milhões de anos, tinha vários dentes, enquanto os animais de Lightning Ridge apresentaram uma redução, passando para cinco ou apenas três, dependendo da espécie.
Entre as espécies vivas, a equidna é desdentada e o ornitorrinco fica sem dentes quando adulto. Para os autores, essa mudança pode ser associada à competição com o rato d’água australiano, introduzido na região há 2 milhões de anos, fazendo os ornitorrincos optarem por alimentos mais macios e facilmente processados.