Artes/cultura
25/03/2024 às 17:00•2 min de leituraAtualizado em 27/03/2024 às 12:19
O café é apreciado em muitos países, ajudando a manter a disposição em alta ao longo do dia, dada a presença de cafeína, isso sem falar no seu sabor mais marcante. E depois que ele é coado, em vez de ser jogado no lixo, ele também pode ser aproveitado de uma forma um tanto quanto inusitada. No setor de construção, o café é capaz de tornar o concreto mais resistente. É isso mesmo!
Não é de hoje que pesquisadores estão em busca de recursos sustentáveis para reduzir os impactos do setor de construção civil. E em meio a seu trabalho, engenheiros da RMIT University descobriram que a borra de café pode ser uma excelente aliada, capaz de produzir um concreto de melhor qualidade. Ou seja: dois grandes benefícios podem ser garantidos com a sua adoção em larga escala.
Do ponto de vista climático, adotar a borra de café para esta finalidade tem um efeito significativo. Estima-se que, anualmente, 75 milhões de toneladas de café sejam descartadas, isso só na Austrália. Uma vez em aterros, assim como os demais materiais orgânicos presentes, contribui com a emissão de metano, um gás bastante poluente, na atmosfera.
O estudo que abordou essa descoberta, publicado no Journal of Cleaner Production em setembro do ano passado, destacou dois pontos importantes: o gás metano é considerado 21 vezes mais nocivo que o gás carbônico. Além disso, dentro dos aterros, parte significativa dos restos de cozinha são de borras de café. Evitar o descarte, portanto, pode fazer muita diferença.
Os pesquisadores australianos envolvidos no desenvolvimento dessa solução detalharam quais etapas foram adotadas nos testes: após coletarem o café já utilizado, essa borra foi seca. Em seguida, o café foi aquecido em um processo especial, sem a presença de oxigênio, chamado de pirólise.
Para descobrir qual temperatura deveria ser empregada nesse processo, a equipe optou por aquecer o café em diferentes temperaturas, em 350 °C e 500 °C. Em seguida, essas amostras eram misturadas ao concreto em diferentes concentrações, para que fosse analisado qual versão seria a melhor.
Depois dessas misturas para concreto permanecerem em temperatura ambiente, elas passaram por testes que avaliaram a sua resistência, bem como o seu desempenho. Para que tais aspectos fossem analisados em seus mínimos detalhes, além da técnica de difração de raios X (XRD), microscópios eletrônicos de varredura foram utilizados.
O resultado foi surpreendente: a mistura feita com 15% de café pirolisado a 350 °C apresentou a melhor qualidade, sendo associada a uma resistência à compressão 29,3% maior do que as versões comuns que utilizamos atualmente.
Considerando ainda que no setor da construção civil a prática de reaproveitar materiais é muito reduzida, esse concreto sustentável oferece um primeiro passo necessário. Vale destacar que nesta aplicação inovadora, o café reduz a necessidade de utilizar areia na composição da mistura do concreto.
Ou seja, isso também representa a menor adoção de um material que é bastante difícil de ser obtido. E por mais que a indústria seja associada a muitos problemas ambientais, é possível reduzir o uso de recursos naturais, que são limitados, e expandir o uso de materiais sustentáveis sem abdicar da qualidade e das melhores práticas.