Artes/cultura
21/10/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 21/10/2024 às 03:00
Considerado um dos animais mais fofos do planeta, os pandas-gigantes (Ailuropoda melanoleuca) enfrentam sérios problemas de sobrevivência. Embora a espécie tenha sido reclassificada pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) de “em perigo” para “vulnerável”, algumas ameaças persistem, e talvez a mais séria seja a reprodução em cativeiro.
Com o problema parcialmente superado, graças à introdução de novas técnicas de manejo, nutrição e compreensão do comportamento dos animais, os profissionais de zoológicos e áreas de conservação têm que lidar também com a baixa taxa de reprodução natural da espécie de, no máximo, 36 horas por ano.
Agora, um estudo publicado recentemente na revista Science propõe uma maneira inovadora de garantir essa sobrevivência: reprogramar células da pele de pandas-gigantes para que se transformem em células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs). Mesmo criadas artificialmente, essas células pluripotentes possuem características semelhantes às suas análogas naturais.
Tecnologia que deu o prêmio Nobel ao médico japonês Shinya Yamanaka em 2012, as “iPSCs oferecem uma fonte autorrenovável e inesgotável de material de espécies ameaçadas, capaz de regenerar vários tipos de células conforme necessário”, explicam os autores do estudo atual.
Depois de se mostrar eficaz na "desextinção" do rinoceronte-branco-do-norte, a criação de iPSCs a partir de pandas-gigantes não teve o mesmo sucesso, quando os pesquisadores usaram condições experimentais já testadas para camundongos e células humanas.
Voltando à estaca zero, eles mudaram alguns detalhes, até chegar às condições corretas. “Os clones [iPSC] eram muito lindos”, disse Liu em um release.
Se a transformação de células da pele do panda-gigante em células-tronco já foi um "parto", o grande desafio veio a seguir: o que fazer com essas células agora? Duas opções óbvias seriam criar esperma do animal e, principalmente, óvulos. Isso porque induzir as pandas fêmeas a produzirem mais óvulos (para recuperá-los) é proibido.
Sem ter como coletar óvulos de pandas-gigantes vivos, os cientistas pensaram em fazer isso com indivíduos recém-falecidos, mas logo desistiram. “A escassez de indivíduos falecidos, muitos dos quais são idosos ou têm problemas de saúde, complica ainda mais a coleta de óvulos viáveis”, explica Liu.
Embora o objetivo final da pesquisa seja usar essas células-tronco para criar um animal, afirma Liu, isso não quer dizer que será possível gerar um panda-gigante de proveta imediatamente, pois, mesmo reprogramadas para um estado pluripotente, as iPSCs não são ainda um embrião.
De qualquer forma, o estudo forneceu uma ferramenta valiosa para pesquisa, e a base para geração de gametas de pandas-gigantes in vitro.