Artes/cultura
08/03/2024 às 20:00•2 min de leituraAtualizado em 08/03/2024 às 20:00
Durante as décadas de 1950 e 1960, a União Soviética (URSS) usou cães para voos espaciais suborbitais e orbitais, na esperança de determinas se esse tipo de viagem seria segura para os seres humanos. Neste período, os soviéticos lançaram missões com vagas de passageiros para pelo menos 57 cães. Porém, a quantidade de cães que chegaram até o espaço é menor do que isso, uma vez que alguns deles voaram mais de uma vez.
A maioria deles sobreviveu sem maiores complicações e os poucos que morreram foram devido a falhas técnicas. Contudo, entre todos esses testes, há um animal de grande destaque: Chernushka, uma cadela lançada ao espaço ao lado de um manequim para comprovar que seria seguro realizar voos espaciais e reentrar na Terra.
Os cães eram os animais preferidos dos soviéticos para realizar experimentos porque os cientistas os consideravam adequados para suportar longos períodos de inatividade. Como parte do treinamento, eles eram confinados em pequenas caixas por 15 a 20 dias seguidos. Cachorros de rua também eram os preferidos porque, segundo os pesquisadores, podiam tolerar melhor os rigores e estresses extremos do voo espacial.
Cadelas foram mais utilizadas do que machos por causa de seu temperamento e porque o traje que elas usavam para coletar urina e fezes era equipado com um dispositivo especial, projetado para funcionar apenas com fêmeas. Durante a fase de testes, esses animais também foram colocados em simuladores que funcionavam como um foguete no dia do lançamento e também tiveram que andar em centrífugas que simulavam a alta aceleração do lançamento do foguete.
Os cães que voaram em órbita foram alimentados com uma proteína nutritiva gelatinosa. Essa comida era altamente fibrosa e ajudava os cães a excretarem durante longos períodos de tempo enquanto estavam em seus pequenos módulos espaciais. De acordo com dados históricos, mais de 60% dos cães que entraram no espaço sofreram de prisão de ventre e cálculos renais ao retornarem à base.
A história dos cães no espaço começa certamente com uma figura bastante conhecida: Laika, a primeira criatura viva nascida na Terra em órbita, a bordo do Sputnik 2 no dia 3 de novembro de 1957. Ela acabou morrendo entre cinco e sete horas de voo devido ao estresse e superaquecimento, mas a verdadeira causa da morte só foi ser realmente divulgada em 2002.
Em uma conferência de imprensa em Moscou em 1998, o cientista soviético responsável pelo projeto, Oleg Gazenko, declarou que essa missão não forneceu informações suficientes sobre as viagens espaciais que justificassem a morte do cachorro. Logo, ainda existia um grande cenário de incerteza por parte dos soviéticos.
E a situação só foi ser resolvida no dia 9 de março de 1961, quando a cadela Chernushka foi colocada a bordo da Sputnik 9 ao lado de um manequim cosmonauta apelidado de Ivan Ivanovich e um grupo de ratos. O manequim acabou sendo ejetado para fora da cápsula durante a reentrada na Terra e fez um pouso suave usando paraquedas. Já Chernushka e o restante dos animais foram recuperados sem danos físicos da cápsula.
Tal projeto bem-sucedido demonstrou à URSS que seria realmente possível realizar missões com humanos para fora do planeta sem maiores preocupações. Pouco mais de um mês depois, em 12 de abril de 1961, Yuri Gagarin alcançou a órbita na espaçonave Vostok 1 e tornou-se o primeiro humano no espaço — um fato histórico e que aumentou os desejos humanos de desbravar o universo.