Ciência
06/11/2024 às 03:00•3 min de leituraAtualizado em 06/11/2024 às 03:00
A morte é a única certeza que temos. Todos os seres que estão vivos encararão, inevitavelmente, o fim de sua trajetória por aqui. Por mais que essa seja uma experiência natural, nem sempre é fácil passar por ela – especialmente para os que ficam, e sofrem pela perda de seus amados.
Os humanos desenvolveram suas estratégias para enfrentar esse fato da vida. Mas o resto do reino animal também procura as suas maneiras para lidar com a morte.
Dependendo da espécie e das circunstâncias, os animais vão reagir de formas diferentes à morte. “Há uma grande variedade de respostas animais a um companheiro ou membro do grupo morto”, afirma a antropóloga Barbara J. King, que é autora do livro How Animals Grieve.
Essas demonstrações emocionais podem variar muito, indo da visível tristeza a respostas mais pragmáticas. Esse é o objeto de estudo da tanatologia evolucionária ou comparativa, que investiga cientificamente a morte e o morrer em animais não humanos.
Ainda há muito o que se descobrir, mas também há muitos pesquisadores dedicados a esse tema. É o caso da professora de antropologia Alecia Carter, da University College London, que passou anos estudando babuínos e testemunhou muitas vezes mães da espécie carregando os cadáveres de seus filhotes falecidos.
Inicialmente, ela estranhou quando viu outros babuínos carregando filhotes mortos que não eram de sua família. Ao observar mais de perto, ela descobriu que esse comportamento de “carregar cadáveres infantis” é muito comum entre os primatas. “Há apenas alguns grupos de espécies onde isso não foi relatado acontecendo”, afirmou Carter.
Ela também constatou que o transporte de cadáveres é mais prevalente em grandes símios e primatas maiores, e mais comum quando os animais perdem seus filhotes por mortes não violentas (como por doenças).
O transporte de cadáveres de bebês também foi documentado em elefantes e até mesmo cetáceos, como foi observado no caso de uma mãe orca que apoiou e segurou seu filhote morto por 17 dias.
Ainda não se sabe exatamente por que os animais carregam os seus mortos, mas há várias teorias. Uma delas cogita que os pais dos animais não têm certeza que seus filhotes estão mortos. King e Carter, no entanto, dizem que isso é improvável, pois afirmam que as mães parecem "tratar o cadáver de forma muito diferente" de um bebê vivo.
Carter defende a ideia de que carregar seus filhos mortos é um ato que deriva diretamente da força dos laços entre mães e bebês. Ela afirma que levar os cadáveres constitui uma grande mudança comportamental e, portanto, não é uma decisão aleatória. "A tristeza não é apenas uma coisa humana — nem alegria, tristeza ou medo. Nós, humanos, estamos cercados por outras espécies que pensam e sentem", completa King.
Mas carregar um cadáver não é a única demonstração de cuidados com os mortos. Há animais que foram observados enquanto ficavam perto de seus familiares falecidos, fazendo uma vigília que provavelmente se relacionava a um esforço de proteger o corpo de presas.
Já os elefantes são conhecidos por seus "funerais" realizados para seus parentes falecidos, praticando rituais específicos, além de seguir visitando o cadáver por um longo período. Houve até registros de elefantes que enterraram seus mortos, embora isso não seja uma prática comum.
Mas outros animais têm reações muito pragmáticas. É o caso das formigas, dos cupins e das abelhas, que entram em ação muito rapidamente quando estão diante dos mortos. Na maioria dos casos, os membros de uma colmeia ou ninho separam o cadáver da colônia, movendo-o para outro lugar, enterrando-o e até o comendo. Os cientistas acreditam que essa prática tem a ver com questões sanitárias, pois assim eles protegeriam o resto do grupo de doenças.
São muitas as formas de encarar a morte – certamente, mais plurais do que as usadas por nós, seres humanos. O que não se pode dizer é que os animais passam imunes ao falecimento dos seus entes queridos.