Estilo de vida
12/03/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 12/03/2024 às 08:00
Quando a impressionante cigarra-carmesim, conhecida cientificamente como Okanagana arctostaphylae, foi vista pela última vez em 1915, a Primeira Guerra Mundial estava entrando apenas no seu segundo ano. Seria necessário mais de 100 anos, em 2020, para que Lucinda Collings Parkers encontra-se um indivíduo em seu jardim no sopé de Sierra Nevada, nos Estados Unidos.
Sem reconhecer o inseto em questão, Parker tirou uma foto e postou em um fórum online de ciência. Em menos tempo do que ela imaginava, sua observação já havia sido vista por Will Chatfield-Taylor, entomologista da Universidade do Kansas, que a encaminhou para um grupo de especialistas em cigarras. Dessa forma, uma redescoberta impressionante foi feita repentinamente.
Após a imagem feita por Parker, o pesquisador associado do Museu e História Natural de Los Angeles, Jeff Cole, e o pesquisador associado da Academia de Ciências da Califórnia, Elliott Smed, concordaram com uma coisa: o inseto fotografado definitivamente era uma cigarra-carmesim, o Santo Graal das redescobertas de cigarras ocidentais.
De acordo com os pesquisadores, existem muito mais espécies de cigarras a oeste das Montanhas Rochosas dos EUA do que a leste, e essas espécies ocidentais são comparativamente pouco conhecidas. Algumas espécies estão sendo registradas pela primeira vez em gerações, como no caso da Okanagana arctostaphylae.
Nos dias seguintes à observação de Parker, Smeds dirigiu durante horas pelas encostas ocidentais das montanhas de Sierra Nevada com as janelas abertas, ouvindo o canto das cigarras e esperando reconhecer algo. A estratégia parece ter valido a pena, uma vez que o especialista identificou algumas dessas criaturas dentro de uma propriedade localizada na região.
Não demorou muito tempo para que Smeds avistasse os insetos vermelhos de aproximadamente 4 centímetros de comprimento. Segundo ele, esses animais se destacariam muito mais se não pousassem nos caules igualmente vermelhos de suas plantas hospedeiras, os arbustos de manzanitas. Várias semanas após o seu reaparecimento, no entanto, as cigarras desapareceram novamente.
Contudo, agora os cientistas sabiam onde e quando procurar: as cigarras-carmesim foram achadas novamente em 2023 em uma área mais ampla no sopé da Sierra ocidental da Califórnia do que o esperado. Segundo os pesquisadores, esses insetos conseguiram escapar da detecção humana por um século porque passaram anos no subsolo. Quando os adultos emergem, isso tende a acontecer sob um calor sufocante e em meio a uma vegetação densa.
Ao contrário das suas parentes orientais, cujo surgimento pode ser previsto com décadas de antecedência, os ciclos de vida das cigarras ocidentais permanecem comparativamente misteriosos. Isso significa que algumas espécies emergem todos os anos, enquanto outras podem ficar "sumidas" por tempos completamente inesperados. Descobrir exatamente o que desencadeia o surgimento delas no ocidente ainda é uma questão sem resposta, mas os cientistas acreditam que a chuva é uma parte fundamental do quebra-cabeça.
Das espécies estudadas, grandes emergências de cigarras ocorreram somente depois que um certo limiar de chuva caiu ao longo de vários anos. De todo modo, os especialistas destacam que pessoas "comuns", como o caso de Lucinda Collings Parkers, podem ser extremamente úteis para a ciência ao compartilharem descobertas intrigantes como essa.