Ciência
12/06/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 12/06/2024 às 10:00
Se você correu de uma galinha ou de um ganso, sabe como esses bichos podem ser violentos. Agora pense em encontrar um animal desse com mais de 2 metros de altura? Essa possibilidade assustadora era real para os humanos que habitavam o território australiano há cerca de 45 mil anos.
Pertencente à espécie de pássaros gigantes Dromornithidae, o Genyornis newtoni foi uma das maiores aves que já existiram na Austrália — acredita-se que ele pesava cerda de 230kg —, sendo por isso apelidado de "gigaganso".
O Genyornis newtoni foi descrito pela primeira vez em 1896, mas nossa compreensão de sua aparência era limitada. O primeiro crânio descoberto estava em péssimas condições e levou mais de um século para que fósseis melhores fossem encontrados. Finalmente, uma série de expedições ao Lago Callabonna, uma área remota e árida do sul da Austrália, trouxe à luz vários crânios bem preservados.
Os crânios encontrados revelaram que o Genyornis tinha uma cabeça enorme e uma mandíbula superior alta e móvel, semelhante à de um papagaio, mas com a forma de um ganso. Essa combinação permitia que ele esmagasse plantas e frutas com facilidade.
Além disso, a estrutura de sua cabeça sugeria adaptações para um estilo de vida aquático. Isso inclui a habilidade de abrir e fechar a mandíbula debaixo d'água sem deixar que a água entrasse no palato ou nariz, uma característica compartilhada com os gritadores sul-americanos de hoje.
O Genyornis também possuía uma caixa craniana grande, mas isso não significava que fosse inteligente. Em vez de um cérebro volumoso, o espaço era preenchido com ossos arejados, uma adaptação eficiente em termos de energia.
Curiosamente, o Genyornis pode ter sido responsável pela dispersão de certas plantas na Austrália, graças ao seu bico robusto e a capacidade de consumir grandes frutas. Há até a possibilidade de que algumas árvores australianas tenham evoluído para depender dessa ave gigante para espalhar suas sementes.
Essas características anatômicas indicam que ele era bem-adaptado para viver em zonas úmidas, onde provavelmente caminhava longas distâncias em busca de alimentos após as chuvas, desempenhando papel importante no ecossistema, servindo como uma espécie de jardineiro.
A descoberta desses novos fósseis também ajudou a clarificar a posição evolutiva do Genyornis. Anteriormente, acreditava-se que ele estava mais relacionado a outras aves gigantes da América do Norte e Europa, conhecidas como Gastornithidae.
Contudo, as novas evidências sugerem que ele está mais próximo dos Anseriformes, a ordem das aves aquáticas que inclui patos, gansos e cisnes, especificamente os gritadores sul-americanos.
Infelizmente, essa espécie não conseguiu sobreviver às mudanças ambientais e à chegada dos humanos. Acredita-se que a caça, a coleta de ovos e a destruição de habitats pantanosos pelos primeiros humanos tenham contribuído para sua extinção.
Soma-se a isso o fato da paisagem da Austrália Central ter se tornado mais árida ao longo do tempo, reduzindo ainda mais os habitats adequados para essa ave gigante.