Artes/cultura
18/10/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 18/10/2024 às 12:00
Há cerca de 14 mil anos, uma ilha no Mediterrâneo era o lar de criaturas extraordinárias: pequenos hipopótamos e elefantes em versão "anã", como nunca vimos antes. Esses animais, que vagavam pelas terras da ilha de Chipre, desapareceram logo após a chegada dos humanos paleolíticos — e evidências indicam que nossa espécie pode ter sido responsável por essa extinção.
Pesquisas recentes sugerem que, em menos de mil anos, esses primeiros caçadores-coletores eliminaram toda a megafauna insular, levantando questões sobre o impacto de pequenas populações humanas em ecossistemas delicados.
Chipre, uma ilha que emergia da última era glacial, era uma verdadeira Arca de Noé para as espécies em miniatura. Os elefantes-anões (Palaeoloxodon cypriotes), também chamados de "elefante-anão-de-chipre", pesavam cerca de 450 quilos, enquanto os hipopótamos-anões (Phanourios minor), conhecidos como "hipopótamo-anão-do-chipre", não chegavam a 150 quilos.
De acordo como os especialistas, eles haviam evoluído para esse tamanho reduzido devido ao fenômeno conhecido como nanismo insular, uma adaptação à escassez de recursos e à ausência de predadores. Porém, essa evolução que os tornava menores também os deixava mais vulneráveis a mudanças ambientais abruptas — como a chegada de um novo e astuto predador: o ser humano.
Os pesquisadores acreditam que os primeiros humanos a desembarcarem em Chipre eram caçadores habilidosos que logo perceberam a facilidade de capturar esses animais. As hipóteses arqueológicas sugerem que, após dias de navegação, os primeiros humanos podem ter encontrado inesperadamente a ilha com esses pequenos elefantes e hipopótamos. Por falta de defesa, os animais foram facilmente abatidos.
Tanto é assim que estudos recentes, baseados em modelos matemáticos e dados paleontológicos, indicam que a extinção dessas espécies ocorreu de forma muito mais rápida do que se pensava inicialmente.
Anteriormente a crença era de que, por ser uma ilha relativamente pequena e abrigar uma população humana não muito numerosa, os habitantes não teriam sido capazes de exterminar toda a megafauna. No entanto, os novos modelos indicam que até mesmo uma população entre 3 mil e 7 mil indivíduos teria sido suficiente para dizimar elefantes e hipopótamos em um curto espaço de tempo, apenas caçando para sobreviver.
A questão intrigante é como algo tão grandioso, como a extinção de uma espécie inteira, pode ocorrer em uma escala tão reduzida — tanto em termos de tempo quanto de número de pessoas envolvidas.
O fato é que a ilha oferece um "laboratório" perfeito para esse tipo de estudo, pois era uma área isolada com um ecossistema relativamente simples, abrigando apenas duas espécies de megafauna durante o Pleistoceno Tardio. Assim, ela se torna um exemplo ideal de como a chegada de uma pequena população humana pode perturbar drasticamente o equilíbrio natural.
Essa história não se limita apenas a Chipre. Em várias outras ilhas do Mediterrâneo, como Creta, Malta e Sicília, espécies anãs semelhantes também foram extintas, muitas vezes em paralelo com a chegada dos humanos. O fenômeno se repete em grande escala em outras partes do mundo, como a Austrália, onde a megafauna também foi extinta logo após a chegada dos humanos.
Essas descobertas mostram o grande impacto que os humanos podem ter nos ecossistemas, mesmo em pequena escala. Elas revelam que até uma população reduzida pode causar a extinção de espécies em ambientes frágeis. Isso serve de alerta para o presente, onde a ação humana é ainda mais intensa, reforçando a importância de evitar desastres futuros para a biodiversidade.