Ciência
06/11/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 06/11/2024 às 21:00
Nos altos picos das montanhas do Uzbequistão, arqueólogos desvendaram cidades medievais que guardam histórias milenares. Escondidas ao longo da icônica Rota da Seda, essas cidades, chamadas Tashbulak e Tugunbulak, representam um enigma da antiguidade. O que no início parecia apenas montes isolados, revelou-se uma descoberta monumental graças a um equipamento de ponta: o LiDAR (Light Detection And Ranging), que utiliza pulsos de laser para mapear o terreno com precisão.
As duas cidades foram avistadas pela primeira vez em 2011, quando uma equipe de arqueólogos explorava as montanhas da Ásia Central. Segundo Farhod Maksudov, do Centro Nacional de Arqueologia do Uzbequistão, “como arqueólogos, reconhecemos essas áreas como locais antropogênicos, lugares onde as pessoas viviam”.
Ao escavar o solo, eles encontraram milhares de fragmentos de cerâmica, sinalizando que aquela era uma área habitada. Com base nesses dados, o arqueólogo da Universidade de Washington Michael Frachetti notou que estava diante de algo muito maior do que esperavam.
A primeira grande descoberta foi Tashbulak, uma cidade medieval a mais de 2 mil metros de altitude, onde, em 2015, Frachetti conheceu um morador da região que relatou ver cerâmicas similares no quintal de sua casa. Após investigar o local, Frachetti confirmou a presença de uma cidadela medieval sob a fazenda do morador e avistou outros montes no horizonte. “E então pensamos: ‘Este lugar é gigantesco’”, comentou o pesquisador.
Batizado de Tugunbulak, esse sítio arqueológico foi mapeado com o auxílio do LiDAR, revelando uma cidade que se estendia por quase 1,2 km². "É uma descoberta impressionante", afirmou o arqueólogo Zachary Silvia, da Universidade Brown, ressaltando a importância do achado para a compreensão das redes comerciais da Rota da Seda. A descoberta sugere que áreas aparentemente remotas eram, na verdade, parte de um extenso sistema de troca cultural e comercial.
Tugunbulak parece ter sido uma cidade completa, com cidadela, edifícios, pátios e muros fortificados. Para sustentar essa comunidade nas alturas, os habitantes exploravam a abundante fonte de minério de ferro nas montanhas e as densas florestas de zimbro, usadas como combustível. Escavações revelaram indícios de fornos e moedas de várias regiões, sugerindo um centro comercial vibrante que atraía caravanas da Rota da Seda.
Para Maksudov, esses achados são a prova de que “essas cidades montanhosas atraíram as caravanas da Rota da Seda porque tinham seus próprios produtos a oferecer”. E Sanjyot Mehendale, da Universidade da Califórnia, acrescenta que as redes comerciais da Rota da Seda eram extremamente fluidas, incluindo sociedades antes vistas como periféricas.
Cidades como Tashbulak e Tugunbulak eram parte de uma rede que atravessava toda a Eurásia. Agora, Mehendale e a equipe pretendem descobrir mais sobre os habitantes dessas cidades. Quem eram? Como se organizavam? A pesquisa promete décadas de descobertas, com um tesouro arqueológico enterrado e aguardando revelação.
Como afirma Silvia, a equipe ainda tem uma “vida inteira de trabalho pela frente”, e cada nova camada desenterrada pode lançar luz sobre a vida e os segredos guardados nas montanhas do Uzbequistão, conectando-nos diretamente ao coração da Rota da Seda.