Ciência
28/09/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 28/09/2024 às 18:00
Uma nova colônia com cerca de 50 periquitos-noturnos (Pezoporus occidentalis), considerados extintos por décadas, foi descoberta em uma região remota da Austrália Ocidental. Essa descoberta aumenta significativamente as chances de salvar a espécie, conhecida por seu estilo de vida noturno. Embora viva à noite, os periquitos-noturnos ironicamente não têm uma visão noturna excelente, o que os torna ainda mais peculiares. Mesmo assim, eles continuam criticamente ameaçados de extinção, e os pesquisadores pedem ajuda urgente para garantir a preservação da espécie.
A redescoberta dessas aves não só reacendeu a esperança de salvá-los, mas também trouxe de volta parte da cultura local. Os Ngururrpa, habitantes tradicionais da região, não avistavam ou ouviam os periquitos-noturnos há tanto tempo que quase tinham esquecido sua importância cultural. Eles acreditavam que as aves só viviam em uma área vizinha, mas o trabalho conjunto entre os guardas Ngururrpa e cientistas universitários trouxe à tona uma rica história sobre esses periquitos e sua ligação com a vida cultural do povo local.
A equipe de pesquisadores e guardas florestais utilizou gravadores acústicos para capturar os chamados noturnos dos periquitos em 31 locais diferentes. O sucesso foi surpreendente: em 17 desses locais, os gravadores registraram os sons dessas aves misteriosas. O próximo passo foi explorar as áreas mais promissoras, onde encontraram ninhos antigos, penas e, ocasionalmente, ouviram as aves ou as capturaram em armadilhas fotográficas.
A descoberta do periquito-noturno também reviveu uma antiga história usada pelos Ngururrpa para manter as crianças próximas aos acampamentos: o canto assombroso da ave era interpretado como o som de espíritos malignos. Esse folclore é um exemplo de como a colaboração entre cientistas e as comunidades indígenas não apenas ajuda a proteger a biodiversidade, mas também preserva a herança cultural em risco.
Apesar da quantidade significativa de avistamentos, os pesquisadores alertam que a situação da espécie continua crítica. A escolha cuidadosa dos locais de pesquisa sugere que os pássaros estão restritos a habitats específicos, onde predadores, como gatos, são raros. A sobrevivência dessas aves parece estar diretamente ligada à presença de certos tipos de gramíneas australianas e à ausência de predadores invasores.
Embora a descoberta de uma nova colônia seja uma grande vitória para a conservação, o futuro dos periquitos-noturnos ainda enfrenta grandes desafios. Um dos maiores inimigos dessas aves são os gatos selvagens, mas os dingos — predadores nativos da Austrália— ajudam a controlar essa ameaça ao se alimentarem dos predadores. Logo, manter as populações de dingos estável é visto como um passo crucial para garantir a sobrevivência dos periquitos-noturnos.
Além disso, a nova colônia também enfrenta um risco que a população estudada em Queensland não tem: o fogo. A região é mais propensa a incêndios, o que pode devastar a área de uma vez só. Para evitar essa tragédia, os guardas realizam queimadas controladas esporadicamente para reduzir a quantidade de material inflamável na região. Os pesquisadores sugerem que essas queimadas continuem, mas com um cuidado ainda maior para garantir a segurança das aves.
Outro desafio é a interferência de camelos selvagens, animais invasores na Austrália que podem perturbar o delicado equilíbrio do habitat. As consequências do aquecimento global também são imprevisíveis, mas em uma das regiões mais quentes do mundo, é provável que o clima extremo afete negativamente a sobrevivência desses pássaros raros.