Neandertais e sapiens podem ter começado a enterrar seus mortos simultaneamente

20/09/2024 às 06:002 min de leituraAtualizado em 20/09/2024 às 06:00

As práticas funerárias dos neandertais e Homo sapiens no Levante, região que compreende parte do Oriente Médio, intrigam os pesquisadores. Estudiosos acreditam que ambas as espécies começaram a enterrar seus mortos aproximadamente ao mesmo tempo, há cerca de 120 mil anos. 

Esse fenômeno não parece ser uma coincidência, e sim uma resposta ao aumento da competição entre os grupos, que disputavam por território e recursos numa área onde as duas populações se encontraram e interagiram. 

Os locais de sepultamento mais antigos de neandertais e Homo sapiens estão todos concentrados nessa região, sugerindo que o costume de enterrar os mortos tenha se originado ali, antes de se espalhar para outros lugares.

Encontro das espécies

Neandertais e Homo sapiens disputaram território no Levante. (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
Neandertais e Homo sapiens disputaram território no Levante. (Fonte: Getty Images/ Reprodução)

Essa interação no Levante, durante o Paleolítico Médio, ocorreu quando os neandertais, vindos da Europa, e os Homo sapiens, oriundos da África, migraram para a região. A partir desse encontro, essas espécies passaram a dividir os mesmos nichos ecológicos, utilizando os mesmos recursos e, às vezes, até habitando as mesmas cavernas. 

Diante dessa convivência próxima, as práticas funerárias emergiram como uma forma simbólica de demarcar território, sugerem os pesquisadores. Enterrar os mortos, nesse contexto, seria uma maneira de reivindicar a posse de uma área em um momento em que os recursos se tornavam escassos.

Os primeiros exemplos de sepultamentos de Homo sapiens foram descobertos nas cavernas Qafzeh e Skhul, em Israel, enquanto os neandertais deixaram vestígios funerários na caverna Tabun, também em Israel, e na famosa caverna Shanidar, no Iraque. Curiosamente, nenhum desses grupos parece ter desenvolvido práticas de enterro em seus locais de origem

No Quênia, por exemplo, o sepultamento humano mais antigo conhecido data de apenas 78.000 anos, muito posterior ao período em que os Homo sapiens já enterravam seus mortos no Levante. Da mesma forma, os neandertais não apresentaram evidências de sepultamentos na Europa tão antigos quanto os encontrados no Oriente Médio.

Diferenças importantes

Neandertais preferiam sepultar seus mortos nas cavernas. (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
Neandertais preferiam sepultar seus mortos nas cavernas. (Fonte: Getty Images/ Reprodução)

Apesar das semelhanças nas práticas funerárias das duas espécies, algumas diferenças chamam a atenção. Neandertais preferiam sepultar seus mortos dentro de cavernas, enquanto os Homo sapiens optavam por enterrar os corpos fora delas, em terraços ou abrigos de pedra

Além disso, os Homo sapiens frequentemente posicionavam os corpos de forma supinada, com as articulações flexionadas, enquanto os neandertais variavam bastante na disposição dos cadáveres, às vezes utilizando pedras como apoio para a cabeça, sugerindo um cuidado especial com a forma como os corpos eram dispostos.

Outro detalhe interessante é que ambos os grupos enterravam indivíduos de todas as idades, de crianças a adultos, demonstrando um respeito geral pelos mortos. O hábito de deixar bens funerários também era comum, com neandertais depositando restos de animais e Homo sapiens se destacando pelo uso de conchas e ocre, materiais de grande simbolismo.

O fato de que as práticas funerárias parecem ter surgido no Levante, e não nos locais de origem das duas espécies, suscita a possibilidade de que essas tradições tenham sido influenciadas pelo contato entre os grupos. Assim, o desenvolvimento dessas práticas poderia estar relacionado à necessidade de estabelecer fronteiras e garantir a posse de recursos, numa espécie de “competição simbólica” pela ocupação da terra.

As evidências sugerem que os rituais funerários de neandertais e Homo sapiens no Levante, longe de serem práticas isoladas, faziam parte de um processo maior de interação e possível influência mútua. Nesse contexto, a morte não representava apenas o fim de um ciclo, mas também uma forma de afirmar presença e controlar o território.

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