Artes/cultura
31/05/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 31/05/2024 às 10:00
O desastre de Chernobyl, que aconteceu em 26 de abril de 1986, é considerado um dos maiores acidentes nucleares de todos os tempos e mudou totalmente a região. Fora as mortes diretas e indiretas pelo contato com as substâncias nocivas, até mesmo a fauna foi bastante modificada.
Na região que hoje pertence à Ucrânia, mas era na época parte da União Soviética, animais silvestres lentamente e apenas décadas depois registram níveis menores de radiação no corpo.
Só que uma espécie segue o caminho contrário e intrigou cientistas. Pesquisas feitas nos últimos anos mostraram que o javali selvagem estava aumentando a quantidade de radiação no corpo em vez de diminuir. A explicação era relativamente simples, mas só veio depois de muitas hipóteses erradas.
Pesquisadores da Leibniz University de Hannover, na Alemanha, e da TU Wien, na cidade austríaca de Viena, descobriram o explica o paradoxo da radiação aumentar em vez de diminuir. A questão envolve a dieta do javali selvagem, que não é compartilhada por outras espécies.
Esse animal costuma comer fungos do gênero Elaphomyces que crescem na região, mais especificamente a espécie conhecida como trufa falsa ou trufa dos veados — outro animal que normalmente se alimenta dela. E eles estão carregados de radiação, porém não apenas da explosão da usina nuclear.
De acordo com os cientistas, os fungos em questão absorvem radiação a uma velocidade muito menor e com certo "atraso" por estarem até 40 centímetros debaixo da terra. Dessa forma, é natural que ela leve mais tempo para entrar em contato com substâncias danosas e passá-las para animais como o javali.
Além disso, as trufas falsas, na verdade, já estavam contaminadas com material radioativo antes mesmo do Chernobyl. O estudo detectou que elas apresentavam traços de elementos residuais de testes nucleares feitos nas proximidades até vinte anos antes da explosão em Chernobyl.
Os pesquisadores encontraram césio-137 em taxas cada vez maiores nos fungos, o que significa que só agora a radiação de Chernobyl está chegando neles. Por outro lado, eles já tinham césio-135 no organismo, que é o isótopo resultantes desses experimentos soviéticos.
Detectar exatamente a substância e a origem foi uma tarefa considerada bastante difícil pela equipe, já que o césio "antigo" exige outros métodos de testagem.
"Nosso trabalho mostra o quão complicada a inter-relação em ecossistemas naturais pode ser, mas também ressalta que as respostas para tais enigmas podem ser achados se as medições forem precisas o suficiente", diz Georg Steinhauser, um dos líderes do projeto.
Publicada em uma revista científica em 2023, a descoberta é uma prova de que a região de Prypiat já era potencialmente perigosa para a habitação humana antes mesmo do acidente. Além disso, ela reforça que a retomada dos hábitos no local ainda está longe de acontecer, em especial o consumo de carne animal.