Artes/cultura
06/09/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 06/09/2024 às 09:00
Você já parou para pensar no que o uso de cannabis pode fazer com o seu corpo além do que é visível? Um estudo recente com mais de 1 mil adultos revelou que o consumo da erva pode mexer com o nosso epigenoma, uma espécie de “controle remoto” que ativa ou desativa genes, influenciando o funcionamento do corpo.
Conduzida por epidemiologistas da Universidade Northwestern, a pesquisa sugere que o uso acumulado de cannabis ao longo dos anos pode estar ligado a mudanças epigenéticas significativas, levantando novas questões sobre os efeitos a longo prazo dessa substância na nossa saúde.
"Observamos associações entre o uso cumulativo de maconha e múltiplos marcadores epigenéticos ao longo do tempo", explicou Lifang Hou, epidemiologista da Universidade Northwestern. Nos Estados Unidos, onde quase metade da população já experimentou cannabis, seu consumo é cada vez mais comum, especialmente com a legalização em alguns estados e países. Mesmo assim, ainda estamos descobrindo o que ela realmente pode fazer com o nosso organismo.
Para entender melhor esses efeitos, os pesquisadores acompanharam cerca de 1 mil adultos que participaram de um estudo de longo prazo, respondendo sobre seu consumo de canábis ao longo de 20 anos. Durante esse período, os participantes forneceram amostras de sangue em dois momentos: no 15º e no 20º ano do estudo. A ideia era ver se o uso da erva estava deixando algum tipo de "impressão digital" no DNA dessas pessoas.
A equipe focou em uma modificação epigenética específica chamada metilação do DNA. Basicamente, a metilação envolve adicionar ou remover pequenos grupos metil ao DNA, o que, sem mudar o código genético em si, pode dificultar a leitura do genoma pelas células.
Fatores como o ambiente e o estilo de vida, incluindo o uso de canábis, podem desencadear essas mudanças, que podem às vezes até ser passadas para as próximas gerações. E é justamente isso que os biomarcadores no sangue podem nos contar: o que andamos fazendo, recentemente ou há algum tempo.
Com as informações detalhadas sobre o consumo de canábis, os pesquisadores conseguiram comparar o uso da erva com os marcadores de metilação no DNA dos participantes. Nos exames de sangue feitos no 15º ano do estudo, eles identificaram diversos marcadores de metilação, com 22 associados ao uso recente e 31 ao uso cumulativo de canábis. Já no 20º ano, foram encontrados 132 marcadores ligados ao uso recente e 16 ao uso ao longo do tempo.
"Curiosamente, identificamos um marcador que já havia sido associado ao uso de tabaco", comentou Hou, sugerindo uma possível ligação entre como o tabaco e a canábis influenciam o epigenoma. Além disso, algumas dessas mudanças epigenéticas já foram associadas a problemas como distúrbios neurológicos e transtornos por uso de substâncias.
Mas vale lembrar que o estudo não prova que a canábis cause diretamente essas alterações ou problemas de saúde. Segundo Drew Nannini, epidemiologista da Universidade Northwestern, "mais estudos serão necessários para confirmar essas associações em diferentes populações" e para entender melhor os impactos da canábis na saúde ao longo do tempo.