Artes/cultura
08/05/2024 às 12:07•2 min de leituraAtualizado em 08/05/2024 às 12:07
Pela primeira vez, pesquisadores observaram um orangotango usando planta medicinal para tratar uma ferida em seu rosto, apresentando comportamento semelhante ao de humanos. O registro aconteceu em 2022 na ilha de Sumatra, na Indonésia, mas só foi divulgado agora.
Conforme o estudo publicado na revista Scientific Reports no dia 2 de maio, o primata chamado Rakus se automedicou com folhas de Akar Kuning. A trepadeira possui propriedades anti-inflamatória e antibacteriana e é usada no tratamento de diabetes e malária.
Visto com um grande ferimento na bochecha em junho de 2022 no Parque Nacional Gunung Leuser, ele apareceu colhendo e mastigando as folhas alguns dias depois. Os orangotangos habitam ou frequentam a floresta perto do centro de pesquisa desde 1994, onde são monitorados de forma não invasiva e vivem como seres selvagens.
Não se sabe como Rakus machucou, mas uma das possibilidades é que ele tenha caído de uma árvore e sido atingido por um galho. Outra hipótese é que o ferimento surgiu após uma briga com rivais, pois o primata dava gritos com choro alguns dias antes da ferida aparecer.
De acordo com o relatório, o orangotango de Sumatra se dirigia à trepadeira, colhia a folha e a mastigava, comportamento considerado incomum, já que a espécie quase nunca consome esse tipo de planta. Em seguida, ele retirava a folha mastigada da boca e aplicava a mistura diretamente na ferida.
Tal comportamento se repetiu por alguns dias, com a aplicação da pasta formada pelas folhas de Akar Kuning mastigadas ocorrendo exclusivamente na área do machucado. Nenhum sinal de infecção foi notado e a ferida começou a fechar com cinco dias, enquanto a cicatrização completa pode ser notada após um mês de tratamento.
“Esta é a primeira observação de um animal selvagem tratando seu ferimento precisamente com uma planta medicinal”, disse a primatologista do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha, Isabelle Laumer, em entrevista à National Geographic. Ela é a autora principal do estudo.
Há relatos de chimpanzés ingerindo plantas com propriedades medicinais desde a década de 1960, indicando que os primatas tentam se curar com esses vegetais há tempos. Porém, os cientistas nunca haviam flagrado um animal selvagem aplicando folhas de plantas em uma ferida, como se soubessem o que estavam fazendo.
Para Laumer, é possível que o orangotango de Sumatra tenha manuseado as folhas antes e tocado na ferida em sequência, sentindo alívio para a dor, o que o fez repetir o procedimento. Ela também não descarta a possibilidade de Rakus ter aprendido a se medicar observando o comportamento de outros integrantes do seu grupo.