Peixes cegos das cavernas têm papilas gustativas na cabeça e no queixo

30/08/2024 às 10:002 min de leituraAtualizado em 30/08/2024 às 10:00

Um mistério sobre os peixes cegos das cavernas (Astyanax mexicanu), que constituem duas populações distintas nas formações subterrâneas Pachón e Tinaja, no México, foi recentemente investigado por cientistas da Universidade de Cincinnati. Embora esses vertebrados semitranslúcidos sejam todos cegos, uma parte deles ganhou uma característica evolutiva: papilas gustativas extras na cabeça e no queixo.

Tanto as características regressivas (perda da visão) como as construtivas (desenvolvimento de novas formas de sentir os alimentos) são conhecidas pelos biólogos desde 1967. No enanto, poucas pesquisas foram feitas sobre o assunto. No novo estudo, publicado recentemente na revista Communications Biology, os autores viajaram ao México para investigar essa espécie de lambari.

Justificando a realização do estudo, o autor sênior, Joshua Gross, afirma em um comunicado que "a regressão, como a perda de visão e pigmentação, é um fenômeno bem estudado, mas as bases biológicas das características construtivas são menos compreendidas", explica o biólogo.

Por que os peixes cegos desenvolveram mais papilas gustativas?

x. (Fonte: Andrew Higley/UC Marketing + Brand)
Peixes-das-cavernas cego. (Fonte: Andrew Higley/UC Marketing + Brand)

Para tentar explicar essa jornada evolutiva, Gross e seus colegas estudaram separadamente os ciclos de desenvolvimento das populações de Pachón e Tinaja. Eles descobriram que os também chamados “tetra ciegos” têm o mesmo número de papilas gustativas dos seus homólogos da superfície, até completarem cinco meses.

A partir dessa idade, os peixes que perderam a visão por viver em ambientes escuros começam a desenvolver novas papilas gustativas nas cabeças e queixos durante sua maturação aos 18 meses (eles têm um ciclo de vida de cinco anos). Gross acredita que essa evolução continua, fazendo com que eles tenham um paladar mais apurado do que seus irmãos com olhos.

Análises genéticas quantitativas revelaram que esses botões gustativos externos estão ligados à mudança da dieta dos peixes das cavernas, de alimentos vivos para outras opções, como o guano (cocô) de morcego, abundante nas cavernas.

Diferenças entre as papilas das duas populações de peixes cegos

x. (Fonte: Daniel Berning et al.)
Diferenças na distribuição das papilas gustativas extraorais . (Fonte: Daniel Berning et al.)

Embora tanto os habitantes da caverna de Pachón quanto os de Tinaja tenham desenvolvido as papilas gustativas adicionais, foram registradas algumas diferenças perceptíveis no que se refere à densidade e ao momento da expansão, afirma Gross.

Também chamou a atenção dos pesquisadores o fato de essa complexa característica evolutiva construtiva ser controlada por apenas duas regiões (loci) do genoma, apesar de as cavernas possuírem cenários diferentes. 

No entanto, conclui Gross, “ainda não está claro qual é a relevância funcional e adaptativa precisa desse sistema de paladar aumentado”. Para continuar seguindo a linha de pesquisa, os autores iniciaram estudos com foco no paladar, expondo os peixes cegos a variados sabores, como doce, azedo e amargo.

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