Ciência
16/09/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 16/09/2024 às 09:00
Em um dos eventos mais intrigantes do mundo marinho, cientistas que estudavam um tubarão-sardo (Lamna nasus) nas águas de Cape Cod descobriram que a criatura foi devorada por um predador ainda maior. A vítima? Uma fêmea grávida, marcada com dispositivos de rastreamento para monitorar seus movimentos.
Em março de 2021, 158 dias após sua liberação, os dados transmitidos revelaram algo inesperado: o tubarão foi comido por outro tubarão, em uma reviravolta digna de um filme de suspense. O predador? Provavelmente, um gigantesco tubarão-branco, o maior assassino dos mares.
A história começa em outubro de 2020, quando cientistas implantaram um transmissor e uma etiqueta de satélite no tubarão-sardo, esperando monitorar seus movimentos ao longo do tempo. O animal, que tinha 2,2 metros de comprimento, nadou tranquilamente por meses. Mas em março, os cientistas notaram mudanças estranhas nos dados de profundidade e temperatura, sinais claros de que algo havia acontecido.
A temperatura constante de 22°C, muito diferente das temperaturas das águas onde o tubarão nadava, indicava que a etiqueta havia sido engolida por um predador endotérmico, ou seja, um animal de sangue quente.
Os pesquisadores sabiam que estavam lidando com uma predação, e os dados de profundidade deram uma pista importante: o tubarão grávido havia sido puxado para as profundezas, algo que só um grande predador poderia fazer. O principal suspeito era o famoso tubarão-branco (Carcharodon carcharias), conhecido por ser um caçador poderoso e oportunista.
No entanto, outro tubarão, o mako (Isurus oxyrinchus), também foi considerado. Os makos são famosos por seus mergulhos rápidos e profundos, mas esse padrão não foi observado nos dados do rastreamento. Em vez disso, a profundidade constante sugeria um predador que não tem a mesma tendência de mergulhar tão abruptamente, o que apontou diretamente para o tubarão-branco.
Embora pareça surpreendente que um tubarão tão grande quanto o sardo tenha sido alvo de um predador, esse evento levanta questões sobre o que realmente acontece no mundo subaquático.
Segundo os especialistas, a predação provavelmente foi oportunista, já que ocorreu a cerca de 300 metros de profundidade, um ambiente onde as presas não são facilmente encontradas. Para um tubarão-branco, capturar um tubarão-sardo grávido de 2,2 metros seria uma refeição considerável e valiosa, ainda mais em um ambiente tão inóspito.
Esse episódio, no entanto, trouxe um alerta importante. Além de perder uma fêmea reprodutiva, a população de tubarão-sardo também perdeu todos os filhotes que a fêmea carregava. Como uma espécie com baixa taxa reprodutiva, o sardo já está ameaçado pela sobrepesca e agora enfrenta um novo desafio: a predação por tubarões ainda maiores.
A descoberta mostra que, apesar de serem predadores temidos, os tubarões também são vulneráveis. O tubarão-sardo, por exemplo, com sua força e dentes afiados, não está a salvo de ataques de parentes maiores. Com novos avanços tecnológicos, os cientistas estão entendendo melhor essas interações entre predadores.
O caso do tubarão-sardo devorado é o primeiro exemplo documentado desse tipo de predação, mas pode levar a novas descobertas sobre as interações entre grandes tubarões. Para os especialistas, a tecnologia pode revelar eventos de predação antes desconhecidos, apresentando um quadro ainda mais complexo das profundezas oceânicas.