Ciência
27/04/2024 às 13:00•2 min de leituraAtualizado em 27/04/2024 às 13:00
Uma equipe internacional de pesquisadores publicou recentemente na revista Nature Genetics o que pode ser considerado o mais completo genoma já realizado sobre a espécie de café mais popular no mundo: o arábica (Coffea arabica).
Ao pesquisar segredos milenares em diversos continentes, o que se buscou foi "seus históricos de cruzamento e loci [trechos específicos do DNA] que possam contribuir com resistência a patógenos", diz o estudo.
Conforme o coautor correspondente do estudo, Victor Albert, professor da Universidade de Buffalo, nos EUA, o "trabalho não foi diferente de reconstruir a árvore genealógica de uma família muito importante". Eles descobriram que o arábica se formou há mais de 600 mil anos, nas florestas da Etiópia, como resultado do cruzamento natural entre duas outras espécies de café.
Queridinho da população mundial, o arábica é resultado de uma hibridização natural entre o Coffea canephora (o robusta) e Coffea eugenioides, que mandaram dois conjuntos de cromossomos cada, para o campeão de vendas do Brasil. Quando e onde isso ocorreu, no entanto, permanece incerto, com estimativas entre 10 mil e 1 milhão de anos atrás.
Para refinar a amostra, os autores usaram um programa de modelação computacional para buscar "assinaturas" entre vários genomas. Foram isolados três estrangulamentos populacionais durante a vida do arábica, com o mais antigo ocorrendo há 29 mil gerações, ou 610 mil anos, o que coloca a data como o novo piso.
Esse evento natural, sem a participação humana no cruzamento de espécies, é chamado de poliploidia, diz Albert em um comunicado. Quanto ao seu cultivo, o arábica pode ter começado a ser plantado no Iêmen, por volta do século XV.
O estudo avalia que o café arábica tenha uma população efetiva de reprodução de apenas 10 mil a 50 mil indivíduos. Esse número imaginário representa o tamanho ideal de uma população capaz de manter a diversidade genética. Assim, uma população menor apresenta um risco mais elevado de perda da variabilidade ao longo do tempo.
A baixa diversidade genética pode até mesmo resultar em uma eliminação completa da população, devido a doenças, alterações climáticas e pragas, como a perigosa ferrugem do café, uma doença fúngica que causa perdas anuais entre UD$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões.
O genoma de referência mostrou como "o Robusta se hibridizou novamente com o arábica em Timor [no Sudeste Asiático], e trouxe consigo alguns dos seus genes de defesa contra agentes patogênicos", explicou Albert. Ao tentar replicar o cruzamento, os autores descobriram uma região no genoma que pode levar ao desenvolvimento de novas variedades no futuro.