Ciência
11/03/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 11/03/2024 às 10:00
Em 1545, há quase cinco séculos, a nação asteca desmoronou de uma vez por todas. Seus cidadãos começaram a ter febre alta e dores de cabeça, passando a sangrar pelos olhos, boca e nariz pouco tempo depois. Com isso, eles foram morrendo aos poucos até sumirem do mundo. Em 1550, 80% da população asteca — de 15 milhões de pessoas — tinha sido exterminada.
Durante os séculos, os cientistas têm lutado para compreender como um evento tão mortal pode ter acontecido e chegado ao México. Agora, quase 500 anos depois, as primeiras respostas parecem ter sido encontradas.
Os habitantes locais descreveram a doença que acabou com o Império Asteca como "cocoliztli", que na língua asteca nahuatl significa “pestilência”. Usando evidências de DNA dos dentes de vítimas mortas há muito tempo, os cientistas conseguiram concluir que a causa da peste era provavelmente uma "febre entérica" semelhante à febre tifoide causada pela Salmonella enterica, especificamente uma subespécie conhecida como Paratyphi C.
Essa subespécie é um patógeno bacteriano conhecido por causar a febre entérica, que se espalha por meio de alimentos ou água infectados. Além disso, ela também é semelhante à Salmonella que hoje associamos aos ovos cruz. Para a nossa sorte, no entanto, a variação moderna dessa bactéria raramente causa infecção em seres humanos.
Usando o DNA antigo de 29 esqueletos encontrados em um cemitério de Cocoliztli, os cientistas conseguiram testar a presença dos patógenos bacterianos. O único germe detectado foi justamente o Parathyphi C., levando os pesquisadores a acreditar que seja o candidato mais provável ao ter causado a "extinção" do povo asteca.
Apesar dos dados obtidos recentemente, a equipe de investigação deixou claro que poderia haver outros patógenos presentes nos restos mortais astecas, mas que eram indetectáveis ou desconhecidos pelos seres humanos. Esses, por sua vez, ainda não podem ser completamente descartados. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Nature Ecology and Evolution.
Além da causa da peste, os pesquisadores também parecem ter encontrado a origem do surto: os colonizadores europeus. O cenário mais provável é que os animais portadores dessas doenças tenham sido levados ao México por colonos, cujo sistema imunológico já estava equipado para lidar com o germe. Os astecas, no entanto, nunca haviam sido expostos a tal doença e não conseguiram lidar com as consequências.
Historicamente, isso é algo que dizimou diversos povos nativos nas Américas no período de colonização. No passado, doenças como gripe, varíola, sarampo e outros agentes patogênicos que se saiba terem sido trazidos da Europa também foram levados em consideração em tentativas de explicar o fim do Império Asteca. Porém, os dados recentes parecem descartar completamente essas hipóteses. Apesar do fim trágico, os astecas certamente deixaram para trás um legado impressionante sobre uma das sociedades antigas mais evoluídas que já existiram por essas terras.