Artes/cultura
23/04/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 23/04/2024 às 14:00
Se o senso comum nos leva a acreditar que cães e gatos sempre foram os maiores "amigos do homem", um novo estudo vem mostrar que há chance de estarmos errados. Na remota região da Patagônia argentina, há mais de um milênio, uma antiga sociedade de caçadores-coletores deixou para trás vestígios de algo surpreendente: as raposas podem ter sido animais de estimação.
A descoberta intrigante vem de escavações em um antigo cemitério em Cañada Seca, na província de Buenos Aires, revelando um vínculo profundo entre humanos e um membro agora extinto do reino animal.
No antigo túmulo, onde repousam os restos de 24 adultos e crianças, junto com suas ferramentas e ornamentos, uma raposa foi encontrada enterrada ao lado de um dos falecidos. Este não é um evento comum. A presença da raposa, identificada como pertencente à espécie extinta Dusicyon avus, desafia muitas das nossas crenças sobre a interação entre humanos e animais na América do Sul pré-histórica.
Inicialmente, os pesquisadores acreditavam que os ossos encontrados pertenciam a uma espécie de raposa sul-americana moderna. No entanto, análises detalhadas revelaram uma história mais fascinante.
A raposa enterrada parece ter sido mais do que um animal selvagem casualmente associado aos humanos. Ela compartilhava não apenas o espaço do túmulo, mas também hábitos alimentares semelhantes aos dos humanos ali enterrados.
Os estudos de DNA antigo e análises isotópicas indicam que esta raposa se alimentava de uma dieta variada, incluindo plantas, em contraste com as raposas selvagens que se alimentam principalmente de carne. Essa semelhança na dieta sugere uma intimidade incomum entre a raposa e os humanos. É como se compartilhassem mais do que apenas o ambiente; compartilhavam uma vida.
O natural é que a gente fique com uma pulga atrás da orelha querendo entender qual a razão deles usarem um raposa como animação de estimação ao invés do cachorro, por exemplo. A resposta pode residir na singularidade do relacionamento humano-animal.
Isso porque a presença da raposa no túmulo não é um caso isolado. Em outras partes da Argentina e do Peru foram encontrados vestígios de raposas em sepulturas humanas. Isso sugere que esses animais tinham um significado especial para essas antigas comunidades.
Há chance desse animal ser o mais abundante da área e o mais propenso à domesticação ou, quem sabe, até ter uma relação quase divina com os antigos habitantes da região. Mas tudo isso é especulação.
Pensou-se na hipótese de que os cães modernos da região fossem descendentes de um cruzamento entre raposas e cães, mas essa possibilidade foi descartada. Ao que tudo indica, parece que as raposas foram extintas devido a fatores ambientais e à expansão humana, o que impediu que elas se misturassem geneticamente com os cães.
Os pesquisadores acreditam que a chegada dos cães europeus à região, há cerca de 500 anos, pode ter acelerado esse processo, mas certamente não foi a causa principal da extinção das raposas.