Sapos de Chernobyl mudaram de cor após acidente nuclear

04/03/2024 às 10:062 min de leituraAtualizado em 04/03/2024 às 10:06

Após o desastre nuclear de Chernobyl em 1986, seria fácil presumir que resta pouca vida ainda existente na área. Na realidade, contra todas as probabilidades, algumas espécies se adaptaram para poder suportar os níveis intensos de radiação e sobreviver, como alguns sapos na região.

As pererecas orientais (Hyla orientalis), como são chamadas, normalmente apresentam uma cor verde brilhante. Porém, em 2016, uma equipe de pesquisadores que trabalhava na área constataram que esses sapos haviam mudado a cor de suas peles para um tom mais próximo do preto. Para entender esse fenômeno, os cientistas passaram três anos examinando mais de 200 sapos machos capturados em lagos dentro e fora da Zona de Exclusão de Chernobyl, no norte da Ucrânia.

Adaptação e sobrevivência

(Fonte: P. Burraco e G. Orizaol/Divulgação) (Fonte: P. Burraco e G. Orizaol/Divulgação)

A equipe de pesquisadores descobriu que as pererecas orientais encontradas dentro da zona de exclusão tinham uma coloração dorsal da pele notavelmente mais escura do que as rãs fora da zona. E o motivo disso? Para protegê-las da radiação. Afinal, sapos com pele mais escura têm mais de um grupo de pigmentos chamado melanina.

Quanto mais melanina um animal tem, mais escuros serão seus cabelos e pele. Porém, isso também pode proteger contra a radiação, incluindo a ionizante encontrada em Chernobyl. “A coloração escura é conhecida por proteger contra diferentes fontes de radiação, neutralizando os radicais livres e reduzindo os danos ao DNA, e, particularmente, a pigmentação da melanina foi proposta como um mecanismo tampão contra a radiação ionizante”, escreveram os pesquisadores em seu artigo de 2022.

A cor da pele das pererecas era mais escura nas áreas mais próximas da explosão e onde a radiação era elevada no momento do desastre. Isto, de acordo com a equipe, significa que "altos níveis de radiação ionizante, provavelmente no momento do acidente, podem ter sido selecionados para coloração mais escura nos sapos de Chernobyl".

Vida em Chernobyl

(Fonte: GettyImages) (Fonte: GettyImages)

Segundo os pesquisadores, o fenômeno visto nas pererecas de Chernobyl é um claro exemplo da rápida evolução em ação. Na época do acidente, as rãs com menos melanina teriam sido mais vulneráveis aos efeitos da radiação prejudiciais ao DNA, provavelmente matando-as numa idade mais precoce — talvez antes mesmo de conseguirem se reproduzir.

Por outro lado, as rãs com pele mais escura tinham maior probabilidade de sobreviver e produzir muitos filhotes, graças à sua melanina protetora. Desde então, essa característica foi transmitida aos seus descendentes. As pererecas orientais fêmeas começam a se reproduzir por volta dos 2 ou 3 anos. Como quase 40 anos se passaram desde o desastre de Chernobyl, isso equivale a cerca de 10 a 15 gerações de sapos na época do estudo.

Portanto, quando dizemos que o processo evolutivo aconteceu rapidamente, na verdade, significa que ele foi extremamente rápido. Os investigadores esperam que estudos futuros ajudem a desvendar os mecanismos genéticos por detrás da coloração mais escura desses animais, bem como estabelecer outras possíveis consequências da exposição a longo prazo da vida selvagem à radiação ionizante. 

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