Saúde/bem-estar
24/07/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 24/07/2024 às 18:00
Não bastassem os microplásticos e os resíduos de petróleo, mais um poluente passou a fazer parte das substâncias contaminantes do meio ambiente: a cocaína. Uma pesquisa recente, liderada por cientistas do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, detectou vestígios da droga em vísceras do tubarão-bico-fino-brasileiro (Rhizoprionodon lalandii).
Publicado na revista Science of The Total Environment, o estudo é o primeiro a relatar detectar cocaína e seu principal metabólito, a benzoilecgonina, em tubarões de vida livre no mundo inteiro.
Segundo os autores, a descoberta de cocaína impactando organismos da fauna decorre de uma combinação perversa de alguns fatores, como aumento do consumo da droga (particularmente no país), tratamento inadequado dos esgotos que passam dos rios para o mar, escoamento dos resíduos e subprodutos para corpos d'água e até mesmo o descarte proposital da substância para escapar a flagrantes.
Por estarem no topo da cadeia alimentar, os tubarões são muitas vezes considerados indicadores de ecossistema, e a sua saúde e comportamento, importantes balizadores de poluição ou degradação do habitat. Como são altamente migratórios, quaisquer mudanças em suas populações podem ser lidas como sinal de problemas ambientais maiores.
Além disso, por serem longevos, podem acumular poluentes ao longo de muitos anos. Para testar se a cocaína foi parar nas entranhas do tubarão, a equipe comprou de pescadores do Rio de Janeiro (que o vendem com o nome de cação-rola-rola) 13 espécimes que, depois de pesados e medidos, foram dissecados e tiveram amostras de músculos e fígados coletados para testagem.
Esta espécie em particular facilita a amostragem, pois, por passar a vida inteiras em habitats próximos à costa, torna-se uma vítima em potencial à poluição de origem humana.
A primeira identificação oficial da presença de cocaína em tubarões livres mostrou que, além da presença de cocaína em 100% das amostras de peixe analisadas, 92% das amostras de músculo e 23% das amostras de fígado testaram positivo para a benzoilecgonina.
Embora pesquisas anteriores tenham revelado alterações importantes na pele e interrupção da função hormonal em peixes ósseos, como enguias e peixes-zebra, a pesquisa atual ainda não determinou se a cocaína teve algum efeito na saúde ou comportamento dos seus análogos cartilaginosos. Por isso, os autores estão determinados a realizar mais testes.
Outra potencial ameaça diz respeito à saúde humana. "Embora não tenham sido estabelecidas concentrações máximas permitidas para COC ou BE em alimentos, esses achados são indicativos de riscos potenciais à saúde humana, já que os tubarões são altamente consumidos no estado do Rio de Janeiro, em todo o território brasileiro, e de fato em todo o mundo", alertam os autores.